Comportamento

Dia dos namorados? Ainda existe?

Nada há de mais antigo do que a relação entre um homem e uma mulher, conforme conhecido desde a sua criação (Gn 1,27). Dessa relação, estamos todos nós aqui hoje. Dos casamentos pré-contratados desde a infância por interesses alheios, que não os sentimentos entre os envolvidos, até o glamour das paixões arrebatadoras num primeiro olhar que querem se comprometer por toda a vida, podemos imaginar uma infinidade de comportamentos que se foram registrando ao longo da história em diversos tempos e lugares. E como estamos nós, aqui, neste século XXI, em São Paulo? Sim, porque para se fazer uma reflexão além desses limites é uma enciclopédia. Além do mais, o comportamento cosmopolita dessa cidade nos ajuda a ter um “resumo” do mundo.

 Há dez anos, participo da preparação de noivos para o casamento, o Matrimônio como sacramento para os cristãos. São centenas todos os anos, e em cada olhar, em cada casal, encontramos uma história diferente – como esperado. Nessas histórias, chama a atenção que houve rapidamente, nas últimas décadas, uma mudança radical em determinados aspectos. Os casais chegam cada vez mais com a idade “avançada”. O Romeu e Julieta da juventude foi substituído pelos “seniors”, que já se conhecem há muito tempo. Não são raros as “bodas de namoro”: dez ou mais! Verdade seja dita, a “vida em comum” já faz parte da maioria, que agora se apresenta apenas para “oficializar”. No entanto, observa-se que muitos itens de grande importância para a vida do casal estão em aberto: os filhos, como conduzir as finanças e o trabalho na família, conhecimento das diferenças do comportamento entre homem e mulher, convivência com as famílias agregadas, e outros, sem contar uma base sobre a doutrina (católica) a quem farão promessas até o fim da vida. Fica a pergunta: o que fizeram este tempo todo de “namoro”? Afinal o que é namorar?

O dicionário define namorar como “inspirar o amor a, cortejar, cativar, apaixonar, seduzir, atrair...”. Seria um período em que alguém encontrou no outro algo que chamou sua atenção de tal sorte que é necessário se aproximar mais. Aproximar-se mais para conhecer melhor e perceber que não é um sonho, mas uma realidade que assume uma identidade fascinante, ou se desilude e desiste de continuar. Portanto, o namoro não é um compromisso de entrega plena, mas diríamos, ainda que pouco romântico, de avaliação. É perfeitamente normal iniciar um namoro que não deu certo e terminá-lo. É certo que isso possa gerar tristeza para um, desilusões para outros, mas antes agora do que depois.

Conhecer implica num processo crescente de comprometimento e responsabilidade com o que vou conhecendo da pessoa do outro. Não é habitual que eu entregue toda a minha vida a alguém que conheci hoje. A intimidade é um caminho que vamos percorrendo, conforme a pessoa permita, pela confiança que se estabelece entre os dois. Portanto, no namoro, essa caminhada deve ser relativamente proporcional à permissão dos dois. Não se pode namorar, de fato, revelando-se totalmente a alguém que não está disposto a se abrir. É um erro grave no namoro. Pior ainda é oferecer atalhos mentirosos!

A revelação, que geralmente inicia-se pela aparência, avança para os pensamentos e sentimentos, observa o comportamento social e não pode deixar de conhecer a dimensão espiritual de quem quer casar. Em todas essas áreas está a história da pessoa, seus defeitos e suas virtudes, suas tristezas e alegrias. Quando essas condições são suficientemente conhecidas (não superficialmente) para que se perceba uma convivência madura, mas misteriosa e mágica com o amor, aí estarão prontos para a intimidade plena, inclusive física (sexual), para o Matrimônio. Leva um tempo... Infelizmente, os namorados esqueceram isso e começam pelo fim, o que tem acarretado consequências lamentáveis, a ponto de já não se falar de namorados, mas “namoridos”. Uma variável dengosa, mas que foge totalmente da estrada que conduz a uma relação estável e duradoura no amor. Aos que estão com pressa para casar, namorem de verdade. Aos “namoridos” sem fim, tomem uma decisão. Por quê? A respeito dos “namoridos” falaremos outra vez...

Dr. Valdir Reginato é médico de Família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar. E-mail: vreginato@uol.com.br

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