Editorial

Sustentabilidade

A defesa das causas ambientais não é mais uma preocupação apenas de pequena parte da população. Desde os anos 1970, a maioria dos países percebeu a necessidade de promover um desenvolvimento sustentável, para evitar que a depredação da natureza afetasse a qualidade de vida de milhões de pessoas. 

Nesse contexto, passaram a ser discutidos modelos de desenvolvimento sustentável e apresentadas formas de melhorar a vida das pessoas, sem causar mais degradação ao meio ambiente.  

Como exemplo dessa nova mentalidade está a revitalização da cidade de Cubatão, no Estado de São Paulo. Conhecida como o “Vale da Morte” nos anos 1980, devido à extrema poluição que chegava a ocasionar má-formações de bebês, a cidade passou a ser considerada um dos símbolos de recuperação ambiental pela ONU.

Até mesmo o mundo dos negócios se adaptou: empresas pensam mais em suas responsabilidades ambientais, procuram reaproveitar a água e dar boa destinação aos rejeitos, por exemplo. Muitas se preocupam com a qualidade de vida dos funcionários fora do trabalho. São modelos de negócios viáveis, humanos e amigáveis com a Terra.

Apesar dessa mudança de consciência, existem ainda muitos desafios a serem enfrentados. No Brasil, por exemplo, a questão do saneamento básico é pouco discutida e as soluções propostas para esse problema são ainda parcamente colocadas em prática. 

De acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2018, do IBGE, 57 milhões de residências não têm acesso à rede de esgoto, 24 milhões à água encanada e 15 milhões à coleta de lixo. A ausência de saneamento em tão grande número de residências é causa de proliferação de inúmeras doenças, polui os recursos hídricos e ocasiona distúrbios nas cidades, como enchentes.

Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) publicados neste ano, apenas 49% da população brasileira tem acesso a um saneamento seguro. A porcentagem é comparável à de alguns países africanos e está muito longe da dos países desenvolvidos. 

Se tomarmos os dados mundiais, apenas quatro pessoas entre dez têm acesso a um saneamento que garanta condições dignas de saúde. Não ter água limpa para beber “é uma vergonha para a humanidade do século XXI”, diz o Papa Francisco.

A Igreja já se pronunciou muitas vezes sobre a necessidade de um desenvolvimento humano que respeite a natureza. O Papa Bento XVI, em sua encíclica Caritas in Veritate, reafirmou que o desenvolvimento não pode deixar de lado a caridade. “As modalidades com que o homem trata o ambiente influem sobre as modalidades com que trata a si mesmo, e vice-versa”, escreveu. “É necessária uma real mudança de mentalidade que nos induza a adotar novos estilos de vida.”

Há quatro anos, o Papa Francisco se somou a esse apelo na encíclica Laudato Si’, e nos alertou para o fato de que a origem dos problemas ambientais é a mesma dos problemas sociais.

“Todos podemos colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”, exortou. “As atitudes que dificultam os caminhos de solução, mesmo entre os que acreditam em Deus, vão da negação do problema à indiferença, à resignação acomodada ou à confiança cega nas soluções técnicas. Precisamos de uma nova solidariedade universal.”

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