Editorial

Um outro mundo do trabalho

Dia 27 de maio último, o Papa Francisco teve um encontro com o mundo do trabalho em Gênova, na Itália. Das respostas que deu às perguntas que lhe foram feitas, nasce a visão de um outro mundo do trabalho, que representa não só a sabedoria histórica da Igreja, mas também as conclusões de muitos estudos sobre eficiência, produtividade e desenvolvimento econômico das nações.

“No nosso trabalho, lutamos contra muitos obstáculos: a excessiva burocracia, a lentidão das decisões públicas, a falta de serviços e infraestruturas adequadas” – diz o representante dos empresários (e não podemos deixar de constatar que a Itália e o Brasil têm muitas coisas semelhantes). “A nossa preocupação é que esta nova fronteira tecnológica e a retomada econômica e produtiva que chegarão mais cedo ou mais tarde, não tragam consigo novos empregos de qualidade, mas contribuam para aumentar a precariedade e dificuldades sociais” – diz a representante sindical.

Aos problemas e às justas reivindicações que lhe foram apresentados, o Papa responde salientando o valor do trabalho e do trabalhador. Apesar das mudanças tecnológicas, da necessidade de se adaptar às exigências de economias cada vez mais competitivas, as empresas ainda devem se organizar considerando que o respeito ao trabalho e ao trabalhador, a solidariedade e a consciência da própria responsabilidade são virtudes morais necessárias para que cada pessoa se realize humanamente, para que as empresas prosperem e a economia se desenvolva favorecendo o bem comum.

 Francisco faz uma contraposição entre o empresário, que ama o fruto do seu trabalho, aquilo que sua empresa construiu, os trabalhadores, que de alguma forma são seus parceiros na tarefa da vida, e o especulador, que só se interessa pelo lucro, não tem paixão pela empresa e nem respeita os trabalhadores que garantem o seu aparente sucesso. Com o empresário pode haver uma justa colaboração para a construção do bem comum, com o especulador essa colaboração não é possível – pois ele só pensa no seu interesse particular.

Os ganhos advindos da competição, de uma falsa meritocracia que só justifica as oportunidades desiguais são, a médio e longo prazo, menores do que aqueles que advém da solidariedade e da valorização do trabalhador. No trabalho, encontra-se a raiz de todo o “pacto social” que organiza as nações. Quando falta o trabalho, toda a sociedade se desorganiza.

No final do artigo, o Papa apresenta o trabalho como “amigo da oração” e termina seu discurso com uma prece pelos trabalhadores. O discurso, em seu conjunto, é uma obra primorosa que merece ser lido e está disponível na Internet (ver “Encontro com o mundo do trabalho em Gênova”).

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