Fé e Cidadania

Cristãos perseguidos. Qual é a nossa resposta?

O sentimento de alegria dos cristãos de celebrar o Cristo ressuscitado foi abalado pelo noticiário da manhã do Domingo de Páscoa. A violência e intolerância religiosa mostravam mais uma vez a sua face. O Sri Lanka sofreu uma série de ataques, deixando 253 mortos e centenas de feridos. Hotéis de luxo e três igrejas católicas, repletas de fiéis que celebravam a Páscoa, foram alvos dos terroristas.

O Sri Lanka, país marcado por uma guerra civil terminada em 2009, é berço de um pluralismo religioso. Os budistas representam 70,2% da população, os hinduístas são 12,6%, os muçulmanos são 9,7% e os cristãos formam uma minoria de 7%. Diante desse cenário, alguns conflitos menores já vinham sendo registrados entre muçulmanos e budistas. O que gera espanto é que o Budismo apresenta-se como religião da paz. Pode parecer estranho, mas existe uma ala extremista budista, um grupo chamado Bodu Bala Sena, de caráter ultranacionalista e que enxerga nos muçulmanos uma ameaça ao País.

O governo atribui os atentados ao grupo National Thowheet Jama’ath (NTJ) e diz que a ação seria uma resposta aos ataques contra os muçulmanos em Christchurch, na Nova Zelândia, no mês passado. Este mesmo grupo já esteve em outros conflitos envolvendo os budistas locais.

Um estudo da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre mostrou que existem em 38 países violações graves contra a liberdade religiosa, sobretudo em relação aos cristãos. Em muitos países, a perseguição é alimentada pelo fundamentalismo islâmico ou por um nacionalismo agressivo. É importante deixarmos claro que se trata de uma ala do islã e não de sua totalidade, como alguns tentam fazer. A generalização não nos ajuda, pelo contrário, pode alimentar um sentimento de revolta, que acaba desembocando num desejo de retomada das cruzadas como solução. Como deve se comportar o cristão? Em tempos de discurso de ódio cada vez mais frequente, até mesmo o Cristianismo acaba incorporando essa tendência.

O cristão é chamado para algo diferente: “Eu, porém, vos digo...”, como Jesus indica no sermão da montanha (cf. Mt 5-7). Somente pela força do Evangelho de Cristo Jesus, podemos dar uma resposta à pergunta inicial deste texto. O anúncio querigmático nos diz que “o Reino dos céus são dos violentos” (Mt 11,12). Tomemos cuidado, pois não se trata da violência sangrenta, mas do ser violento contra o próprio orgulho. Jesus Cristo não nos quer bobos, mas é preciso cautela para não cairmos naquilo que Ele mesmo condenou. Tertuliano nos adverte: “O sangue dos mártires, semente dos cristãos”. Fique claro que, se o nosso sangue derramado é semente, isto é virtuoso, mas o sangue do nosso inimigo pode ser nossa própria condenação.

Raylson Araujo é aluno de Teologia da PUC SP
 

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