Espiritualidade

No abraço misericordioso do Pai, amor que acolhe e salva

Enquanto ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão. Correu-lhe ao encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15,20). Os exercícios quaresmais da prática da oração, do jejum e da esmola nos convidam a uma verdadeira conversão. Buscam nos preparar bem para a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor.

Estamos nos aproximando do grande Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. Nesse itinerário espiritual, a parábola do pai misericordioso, como costumamos chamar, ajuda-nos a compreender o infinito amor do coração deste Deus rico em misericórdia. No abraço misericordioso do pai que acolhe o filho “pecador” que retorna ao convívio do lar, assim como o duro diálogo com o filho ciumento do seu amor de pai, Jesus nos ensina como devemos proceder como irmãos, filhos do mesmo pai.

Somos todos necessitados do amor misericordioso do Pai, amor que acolhe, perdoa e salva. No itinerário quaresmal, a oração é o diálogo sincero e profundo com Deus, em que devemos nos apresentar sem reservas e sem mentiras, envolvidos pelo seu abraço acolhedor que perdoa, liberta e salva; a prática do jejum, não como mortificação, sofrimento, mas como ação em função dos mais pobres e necessitados; como exercício que nos liberta da pressa, do individualismo, dos diversos mecanismos, e que, em vez de dor e tristeza, enchenos de alegria e felicidade; que nos ajuda a deixar de lado o supérfluo e o passageiro, para uma partilha comprometida da vida, dos bens e de tudo o que temos e somos com aqueles que pouco ou nada têm.

Quaresma é tempo de conversão, tempo de praticar, a exemplo de Jesus, o amor misericordioso, sinal da nossa disposição para nos converter. Conversão é “adesão ao Reino de Deus”, reino de amor, paz e justiça. Reino que vem e exige compromisso com ele. Conversão é atitude de pobreza espiritual e simplicidade, de prontidão para servir no amor e no perdão de filho que está aberto a acolher e ser acolhido, de abraçar e permitir ser abraçado pelo Pai que ama e, amando, liberta para o amor. Conversão é, sobretudo, comportamento sincero diante de uma vida de fé num Deus que espera de braços abertos o nosso retorno como filhos que, depois de ter tomado caminhos errados, decidem voltar e retomar o convívio amoroso e familiar nos braços do Pai. Conversão é atitude de confiança e de se colocar inteiramente nas mãos deste Deus que nos ama e, por isso, perdoa-nos.

Vemos, na atitude do filho mais novo, a opção preferencial de Jesus pelos desprezados e marginalizados da sociedade, sua abertura para acolhê-los. Por outro lado, a atitude do filho mais velho nos revela aqueles que, convencidos de sua postura, justa e correta, consideram-se irrepreensíveis e mais merecedores da atenção e do amor do Pai e, por isso, não se abrem ao perdão e à reconciliação. Esses dois filhos facilmente nos representam. Ora somos um, ora outro, filho pecador arrependido, às vezes filho intransigente, arrogante, que se julga melhor e mais merecedor do que os outros. Aos olhos do pai, ambos limitados e cheios de fraquezas, necessitados de um abraço acolhedor que os liberte e os salve da escravidão do pecado.

A Campanha da Fraternidade deste ano, com o tema “Fraternidade e Políticas Públicas”, e lema “Serás libertado pelo direito e pela justiça”, ajuda-nos a trabalhar para que a misericórdia de Deus seja nossa primeira opção como cristãos, filhos de Deus, comprometidos uns com os outros. Confiemos no amor misericordioso de Deus Pai que nos anima a viver este segundo ano do caminho sinodal de nossa Arquidiocese como privilégio, graça que poderá nos colocar num verdadeiro processo de comunhão, conversão e renovação missionária. Que possamos abraçar essa bela oportunidade do caminho sinodal, bem como ser abraçados por este Deus misericordioso que, de muitas maneiras, busca nos alcançar com o seu amor salvador.

 

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