Liturgia e Vida

‘A boca fala do que o coração está cheio’ (Lc 6,45)

Palavras comunicam mais do que simples ideias. Sobretudo quando falamos sobre fé, convicções, valores, pessoas e ideais, expressamos mais do que meras opiniões: comunicamos um pouco de nós mesmos, isto é, da verdade do nosso coração.

brir a boca exprimimos já o nosso estado de ânimo momentâneo: alegria, preocupação, impaciência, cansaço, medo, entusiasmo. Porém, aqueles que conversam habitualmente conosco descobrem mais ainda: identificam traços do nosso caráter, que são revelados pela fala. Alguns falam com pouca sinceridade, protegendo-se sempre dos juízos alheios; outros não passam além das conversas superficiais; outros falam com impulsividade e indiscrição; outros, por autoproteção, transformam qualquer conversa em deboche; outros são negativos e pessimistas; outros falam muito de si mesmos; outros, ao abrir a boca, transmitem paz e confiança; outros contagiam o ambiente de ansiedade e desconforto…

O Senhor Jesus atraía muitos por meio da fala. “Nenhum homem jamais falou como este Homem!” (Jo 7,46), diziam os guardas que se recusavam a prendê-Lo. Segundo São Lucas, enquanto Ele falava na sinagoga, “todos testemunhavam a favor d’Ele, maravilhados com as palavras de graça que saíam da Sua boca” (Lc 4,22). Ele marcou profundamente o caráter dos Apóstolos, falando-lhes ao pé do ouvido coisas profundas, que não explicava a todo o povo. Aliás, ainda hoje, quando meditamos ou silenciamos diante do Sacrário ou após a Comunhão, é Ele quem nos fala ao coração, mesmo sem palavras.

Enfim, a palavra de um homem expressa um pouco dele próprio! Por essa razão, o livro do Eclesiástico aconselha: “Os defeitos de um homem aparecem no seu falar. Não elogies a ninguém, antes de ouvi-lo falar: pois é no falar que o homem se revela” (cf. Eclo 27,5.8). E Nosso Senhor, no Evangelho, afirma que a palavra é o “fruto” capaz de atestar a qualidade da “planta”, isto é, do coração humano (cf. Lc 6,43). Pois, a boca de um homem “fala do que o coração está cheio” (Lc 6,45).

Portanto, examinemo-nos: o que nossas palavras, em geral, comunicam? Mentiras, intrigas, queixas, maledicências, tristeza, calúnias, maldições, adulação, frivolidade, autocompaixão, vanglória, impureza, ira, medo, indiferença? Ou, ao contrário, sinceridade, fortaleza, serenidade, alegria, compaixão, profundidade, lealdade, bênção, otimismo, castidade, caridade e benignidade? Podemos também nos perguntar qual tem sido o efeito de nossas palavras nos ambientes por onde transitamos: família, trabalho, amigos, Igreja, redes sociais etc. Sabemos transmitir aos outros caridade, veracidade, força e alegria, como Nosso Senhor?

Jamais deixemos de falar com Deus e Ele nos ensinará a falar bem! E não nos envergonhemos de falar a respeito de Deus para os homens, pois nossos lábios existem para bendizê-Lo! Tendo conhecido o Senhor e Seus ensinamentos, “não podemos deixar de falar de tudo o que vimos e ouvimos” (At 4,20)!

 

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