Liturgia e Vida

‘Senhor, afasta-Te de mim, porque sou um pecador!’ (Lc 5,8)

Contemplando brevemente a glória de Deus, Isaías exclamou: “Ai de mim, estou perdido! Eu vi com meus olhos o Rei” (Is 6,5). E, quando Moisés pediu que Sua glória fosse mostrada, o Senhor mostrou somente “as costas” e disse: “Um homem não pode ver-Me e continuar vivendo” (Ex 33,18-23). Nesta vida é impossível conhecê-Lo face a face! Ao manifestar-Se no Antigo Testamento, Deus ocultava o rosto por detrás da “glória”: luz, nuvens, raios, trovões, fogo…

Isso expressa um paradoxo da fé: buscamos a Deus e O desejamos, mas não O podemos ver perfeitamente nesta vida. Dizemos com o salmo “A minha alma tem sede de Deus e deseja o Deus vivo” (Sl 42,3), mas, diante d’Ele, detemo-nos com reverência e temor. Desejamos encontrá-Lo e adorá-Lo, mas ponderamos: “Quem poderá permanecer junto ao fogo devorador?…” (Is 33,14).

Deus somente porque temos um Intercessor que no-lo permite: Jesus Cristo! Sendo “a imagem do Deus invisível” (Cl 1,15), “o resplendor da Sua glória” e “a expressão de Sua substância” (Hb 1,3), o Filho de Deus Se fez Homem visível e palpável! Sendo Deus eterno e transcendente, Ele vem até nós e torna possível que, por meio de Sua Humanidade Santíssima, conheçamos e nos unamos a Deus! Ele convida: “Aproximemo-nos, portanto, com coragem do trono da graça” (Hb 4,16)!

O Evangelho deste domingo mostra que também aqueles discípulos que “viram, contemplaram e apalparam o Verbo da Vida” (cf. 1Jo 1,1) experimentavam uma profunda reverência diante do Senhor. Jesus comia com eles, caminhava, ensinava-lhes, visitava suas casas, colocava-Se como um verdadeiro Mestre e Amigo. Ainda assim, depois do prodígio da pesca milagrosa, Pedro não teve outro impulso senão de se atirar aos Seus pés e dizer “Senhor, afastaTe de mim, porque sou um pecador!” (Lc 5,8).

Esta é a bela “tensão” do coração do cristão: considerar-se indigno e sem direito algum, mas aproximar-se com confiança porque é Ele quem diz: “Vinde a Mim” (Mt 11,28). Sem minimizar a Sua Majestade, não rejeitamos o Seu convite! Aproximamo-nos d’Ele pensando intimamente “Senhor, eu não sou digno; venho somente porque Tu me chamas. Obrigado!”. E, quanto mais sinceramente nos reconhecemos indignos, mais O amamos, inundados de gratidão por Seu convite tão doce.

Essa “tensão” os santos experimentaram intensamente! É uma graça concedida pelo Espírito Santo, que nos retém pelo dom do ‘temor’, mas nos impele por meio da ‘piedade’; e com ambos os dons nos move a amar e obedecer a Deus. Quanto mais reverenciamos e tememos o Senhor segundo o Espírito (não por vão temor), mais confiamos n’Ele e O amamos como filhos.

“Vós não vos aproximastes de realidade palpável: fogo ardente, escuridão, trevas, tempestade, trombeta… Mas vos aproximastes da Cidade do Deus vivo; de milhões de anjos reunidos em festa, de Deus, Juiz de todos, e de Jesus Cristo” (Hb 12, 18ss)… Senhor, nós não somos dignos, mas, por causa da Tua palavra, nos agarramos em Ti!

 

LEIA TAMBÉM: Por que o Papa São João Paulo II criou os mistérios luminosos?

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.