Encontro com o Pastor

Haiti: alimentando a esperança

Após o encerramento da Jornada Mundial da Juventude no Panamá, tive a oportunidade de visitar, pela segunda vez, a Missão Belém em Porto Príncipe, Haiti. A presença e ação dos missionários teve início pouco depois do trágico terremoto de 2010, que deixou uma devastação imensa, além de dezenas de milhares de mortos e feridos. Entre as vítimas, é preciso recordar sempre a muito estimada Doutora Zilda Arns Neumann, irmã do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns. Ela encontrava-se no Haiti tratando de implantar ali a Pastoral da Criança, quando foi vitimada pelo terremoto.

A Missão Belém foi ao meio de Warf Jeremie, uma imensa comunidade favelada, que vive numa periferia extremamente degradada de Porto Príncipe, sobre um imenso lixão, à beira mar, junto a um canal de esgoto a céu aberto. Ali, a Missão iniciou seu trabalho, indo ao encontro das necessidades básicas da população, dedicando uma atenção especial às crianças. A primeira obra foi uma creche destinada a poucas dezenas de crianças, para lhes oferecer um ambiente limpo e seguro para passar o dia, com alimentação, educação e cuidados médicos. A creche situa-se junto dos barracos muito pobres da população. Alguns missionários da Missão Belém vivem ali em tempo integral, dedicados a essa obra que, no decorrer de oito anos, desenvolveu-se muito, a ponto de acolher, atualmente, mais de 1800 crianças e adolescentes na creche e na escola que se está desenvolvendo.

A área construída, evidentemente, precisou de contínua ampliação. Ao mesmo tempo, também cresceram as demandas econômicas e administrativas com a alimentação das crianças, medicamentos, material escolar e o pagamento de 250 funcionários do lugar, geralmente também habitantes da favela. Além disso, é preciso pagar água (caríssima!), luz, energia e outros serviços. Atualmente, encontra-se em fase de construção um extenso pavilhão de dois pisos, que abrigará mais salas para os alunos, que aumentam de número ano a ano. Na minha visita, tive a graça de abençoar a pedra fundamental de um pequeno hospital que a Missão vai construir para atender aos cuidados da saúde da população da comunidade, especialmente das mulheres e das crianças.

A sustentação da obra no Haiti é um verdadeiro milagre da Providência e conta com o apoio de numerosos benfeitores brasileiros e italianos, que ajudam essa obra com “adoções a distância”. Outros ajudam com doações mais expressivas, que tornam possível comprar o material necessário para fazer as construções. Numerosos voluntários brasileiros e italianos oferecem seu tempo e suas habilidades profissionais para colaborar com a obra da Missão Belém no Haiti. A própria Missão montou uma pequena fábrica de trufas no Brasil e na Itália, cuja venda é revertida inteiramente em benefício da obra missionária do Haiti. E não se pode deixar de mencionar a dedicação generosa e em tempo integral dos seis missionários consagrados da Missão Belém, que enfrentam os mil desafios e dificuldades da obra com grande competência e êxito.

Na creche e na escola da Missão Belém, em Porto Príncipe, há animação e vida de crianças, da manhã à noite. Elas enchem as numerosas salas, cantando e repetindo em voz alta os conceitos que os professores lhes passam com seriedade e profissionalismo. A escola é muito valorizada no Haiti, e as crianças vão a elas limpas, uniformizadas e bem arrumadinhas. Elas recebem, conforme a idade, até cinco refeições por dia e esbanjam saúde e vivacidade.

Após a tragédia do terremoto no Haiti, o cuidado da saúde, alimentação, higiene e educação dos pequeninos de uma comunidade extremamente pobre foi, certamente, uma escolha acertada da Missão Belém no Haiti. O problema maior dessas pessoas não foi o terremoto, mas a miséria na qual elas já viviam. Somente apostando nessas frentes é que se pode esperar que essas crianças terão um futuro melhor, não podendo esperar muito das estruturas governamentais e sociais. Desde o terremoto de 2010, nem tudo foi reconstruído ou regularizado. Mas há sinais de esperança de um futuro melhor para essa população sofrida, que vive com admirável criatividade e dignidade a sua pobreza. A obra da Missão Belém contribui, com eficácia, para alimentar essa esperança.

 

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