Editorial

O Apóstolo e a cidade

“Em 25 de janeiro de 1554, um grupo de religiosos jesuítas, chefiado pelo Padre Manoel da Nóbrega e do qual fazia parte São José de Anchieta, fundou o Colégio de São Paulo de Piratininga em um ponto mais avançado do planalto, sobre uma colina situada no encontro dos rios Anhangabaú e Tamanduateí. Ao redor do Colégio, formou-se uma pequena povoação de índios convertidos, jesuítas e colonizadores”.

De modo geral, é assim que quase todos os livros de história do Brasil remontam o surgimento da cidade de São Paulo, hoje a capital econômica do País e uma das maiores metrópoles do mundo.

O que poucos livros narram é que o Colégio ganhou esse nome não porque, como por uma feliz coincidência, foi inaugurado no dia em que a liturgia da Igreja celebra a festa da conversão de São Paulo, mas, sim, porque os missionários de Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, tinham a clara consciência que, a exemplo desse Apóstolo, estavam dedicando suas vidas à missão de evangelizar os gentios do Novo Mundo recém-descoberto pelos europeus.

Paulo ou Saulo, como se sabe, era um perseguidor intrépido dos cristãos. Acreditava que sua missão era dizimar os cristãos. Considerava que prendê-los, expulsá- -los das sinagogas e levá-los aos tribunais para que fossem condenados à morte era um serviço a Deus e um dever do qual não poderia eximir-se.

E assim viveu Paulo, como um temido perseguidor de cristãos, até o dia de sua conversão, conforme conta o livro do Atos dos Apóstolos. São Lucas descreve esse fato como um encontro inusitado com Jesus que fez Paulo cair do cavalo. E, de fato, caiu! Já homem maduro, descobriu que até então vivera por um ideal errado. Com o coração aberto, sem apegos a prestígios ou temores de julgamentos humanos, Paulo teve a coragem de viver uma profunda conversão de vida. E foi assim que de fariseu tornou-se cristão, de perseguidor em um dos maiores missionários, fundador de diversas comunidades católicas; de um inimigo de Cristo, no Apóstolo dos gentios, uma das colunas da Igreja e um santo mártir. E foi por isso também que os jesuítas o escolheram como patrono de sua missão e, hoje, a cidade leva o seu nome.

Passados 465 anos da fundação do Colégio São Paulo de Piratininga, a Igreja em São Paulo vive um momento de profunda revisão de sua ação pastoral e evangelizadora por meio do primeiro sínodo arquidiocesano. O crescimento da metrópole, seu desenvolvimento econômico, a grande concentração demográfica ocasionada pelos diversos fluxos migratórios de pessoas em busca de melhores oportunidades profissionais e condições de vida, tornou São Paulo uma cidade culturalmente rica e diversa. Trouxe, também, mudanças no estilo de vida e na rotina de seus habitantes e consequentes novos desafios para a Igreja: ruas se tornaram avenidas e casas deram lugar a arranha-céus e condomínios fechados que aumentam a sensação de segurança ao mesmo passo em que isolam cada vez mais seus moradores, limitando suas possibilidades de estabelecer relações. Os arranha-céus, em muitos lugares, espremem e tiram a visibilidade de templos católicos, torna-os de difícil acesso e quase invisíveis, somente para citar um exemplo.

Diante disso, ao longo de 2018, todas as paróquias e comunidades da Arquidiocese de São Paulo se reavaliaram, descobrindo fraquezas e também oportunidades. Em 2019, o sínodo arquidiocesano entra em uma nova etapa: as dificuldades constatadas e propostas levantadas durante a fase paroquial serão discutidas nas regiões episcopais, com a participação de todos os padres e delegados escolhidos nas assembleias paroquiais. O objetivo de todo esse esforço é suscitar em todos os fiéis um novo ardor apostólico que torne as nossas comunidades sempre mais abertas e missionárias.

 

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