Editorial

Conversão

‘Uma sociedade que só pensa em se divertir, não se divertirá por muito tempo.’

-Chesterton

A sociedade reage surpresa ao conteúdo das novas delações premiadas, acordadas com os donos da JBS. A reação é essencialmente a mesma quando da delação dos donos da empreiteira Odebrecht, e de tantas outras delações; e com o resultado de tantas outras investigações. O que parece mudar é o grau: a sociedade está cada vez mais surpresa e mais inconformada. Parece não haver hipérbole suficiente- mente expressiva que faça jus à gravidade dos fatos.

Com relação à surpresa, o único paralelo parece ser com a velha história do jovem – mas sincero – rapaz que a todos alertou: “O rei está nu!” Alguém realmente tinha alguma dúvida de que havia tamanhas e escabrosas trocas de favores entre essas “grandes” empresas e um disforme sistema político? É surpresa que a multimilionária caixa-preta do BNDES tenha sido usada para promover promíscuos interesses privados ao invés do bem comum? O amálgama de crises que assola o País impõe, se quisermos um futuro melhor, que se responda à pergunta pelas suas causas últimas. Ocorre que talvez estejamos tão anestesiados pelas desordens oriundas dos pseudossistemas de pensamento hodiernos, construídos sobre o terreno arenoso das ideologias, que tenhamos perdido a capacidade de ver o óbvio. Estamos cegos? Cultiva-se a primazia do individualismo, do materialismo e do culto ao prazer, e espera-se que brote magicamente o amor e a responsabilidade pelo próximo. Não é o mesmo que plantar joio esperando colher o trigo? Instaura-se o deserto do relativismo, e espera-se que nele nasçam homens com senso ético e consciência bem formadas. Mas, como?! Busca-se convencer uma mesma sociedade que a moral é uma questão subjetiva, mas que é feio roubar. Subtraem-se os princípios, mas quer-se manter as conclusões. Ataca- se a estabilidade das relações matrimoniais e da família para depois se espantar com a solidão. É esperar que o caos gere a ordem e a liberdade.

Em um nível mais profundo, não é difícil ver que, removendo-se Deus – como se pudéssemos nós mesmos criar a realidade –, a própria noção de direitos humanos, propriamente falando, desaparece, restando apenas um conjunto arbitrário de sentenças. E ficamos confusos e assustados quando, em vez do “paraíso”, vemos que surge uma distopia. E aqui a pergunta: a corrupção que temos presenciado diariamente e que, como bem afirmou o Papa Francisco, rouba a esperança de trabalha- dores honestos, não é o fruto natural desse mundo destituído de valores cristãos em que vivemos?

Tendo absorvido tais considerações, o leitor, temeroso pelo futuro, mas animado por um santo entusiasmo para se dedicar a ideais mais nobres, deve se perguntar: o que posso eu, então, fazer?

Há um código moral objetivo, perfeitamente coerente e conducente às mais altas aspirações da natureza humana que, assim como um quebra-cabeças, torna-se incompleto se se remove qualquer uma de suas peças: eu devo honrar meu pai e minha mãe; não devo matar; não devo pecar contra a castidade; não devo roubar; não devo levantar falso testemunho; não devo desejar o cônjuge alheio; não devo cobiçar as coisas alheias. Ora, como tais valores só se sustentam à luz de outros mais elevados, devo, sobrenaturalmente – e aqui está a peça central que o mundo hodierno removeu do quebra-cabeças da existência humana –: guardar domingos e festas; não tomar o Santo Nome de Deus em vão; e, principalmente – a única peça que pode dar sentido e unidade ao quadro – amar a Deus sobre todas as coisas, sempre lembrando que Ele nos amou primeiro.

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