Comportamento

Como não fabricar atentados

Na semana passada, fomos todos surpreendidos com a terrível notícia do ataque às pessoas na Catedral de Campinas (SP). Já há algum tempo, temos tido notícias de atos de agressão em escolas, de alunos que entram nas salas de aulas atirando e agredindo companheiros. Estamos nos aproximando de manifestações que antes víamos com certo pavor nos noticiários internacionais. 

Certamente, essas situações promovem comoção, medo, sentimento de vitimismo – não sabemos quando podem acontecer conosco ou com um dos nossos. Se formos analisar mais de perto as motivações de tais atos, encontraremos no seu protagonismo, pessoas emocionalmente desequilibradas, vítimas  de agressões, bullying, deprimidas, enfim, pessoas que não foram cuidadas adequadamente, que não amadureceram de modo integral nem foram estimuladas em todos os aspectos necessários. 

Embora nossa tendência seja pensar que se trata de pessoas, de algum modo, abandonadas pela família, que não tiveram convívio suficiente ou foram pouco amadas, nem sempre a realidade corresponde a isso. É importante, diante de tais acontecimentos, fazer um movimento reflexivo: o que estamos fazendo, como sociedade, para “produzir” tantos transtornos socioemocionais? Mais ainda: como famílias, que instrumentos estamos dando aos nossos filhos para que cresçam em equilíbrio e lucidez e possam estabelecer relações saudáveis no seu entorno? Mais do que nos sentir acuados, com medo das relações, precisamos nos sentir corresponsáveis e capazes de protagonizar mudanças.

Ponto importantes para pensarmos: 

1. Estamos formando nossos filhos para que sejam fortes e suportem as dificuldades sem perder o equilíbrio? Atualmente, muitos pais imaginam que proteger os filhos significa tomar suas dores. Com muita surpresa, assisti a uma reportagem que mostrava cenas de um pai que entrou na quadra de um condomínio com crianças jogando bola, segurou os braços de um menino de 6 anos e fez seu filho lhe bater no rosto. Em seguida, mostrou-se a cena que motivou esse acontecimento absurdo: seu filho havia caído e batido o rosto no chão, ao ser driblado pelo menino. Evidentemente, o pai não viu o acontecimento e, ao ver o filho machucado, impulsivamente foi atrás de um culpado, agredindo-o. Posteriormente, a mãe da mesma criança bateu no menino de 6 anos, derrubando -o no chão. Essa é, certamente, uma cena extrema e desequilibrada, porém mais corriqueira do que se possa imaginar. É importante nos perguntarmos: será que não estamos fazendo o mesmo em outras proporções? 

Quando nossos filhos entram em conflitos ou sofrem pequenas injustiças, não seria muito mais importante, primeiro, entendermos com mais precisão o acontecimento e depois ajudarmos a criança a enfrentá-lo? No caso do condomínio mencionado, enfrentar a dor do machucado e, mais importante, a dor da percepção de que não foi o mais hábil e que isso faz parte do jogo e da vida. Que podemos começar e recomeçar, aprender e nos aperfeiçoar,  ganhar e perder, que somos fortes e suportamos perdas, fracassos e até algumas injustiças sem precisarmos agredir, matar, morrer. Lembrem-se: para sermos livres é importante agirmos buscando o bem. Quem age impulsivamente, obedecendo a um sentimento de indignação ou ira, não é livre e sim escravo de seus sentimentos.    

2. Temos clareza dos nossos valores, para que vivemos e o que buscamos?  Numa sociedade em que o ter vai tomando um vulto cada vez maior – ter bens, ter “sucesso”, ter visibilidade, ter prazer – o “ser” fica diminuído, fica em segundo plano. Vem implícito à ideia de “ter” a competitividade, o egoísmo – “mais para mim, eu primeiro”, o desrespeito ao outro, enfim, o orgulho. Será que percebemos a necessidade de sermos mais? Mais presentes, mais disponíveis às necessidades dos outros (filhos, cônjuges, pais), mais atentos aos socialmente menos favorecidos, mais pacientes nas diferentes circunstâncias, mais lúcidos, mais cooperativos, mais respeitosos, mais livres de nossos impulsos e sentimentos para decidir com critérios pelo bem. 

Penso ser urgente refletir com coragem sobre essas coisas tão cotidianas e “pequenas”, mas que estão adoecendo nossos jovens, crianças e a sociedade como um todo. 

Cada um de nós é parte fundamental se queremos uma sociedade melhor e mais feliz.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o blog educandonacao.com.br
 

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