Fé e Cidadania

Desenvolvimento: caminho para a civilização do amor

Na paciente urdidura por meio da qual lançou as bases proféticas da civilização do amor, o agora São Paulo VI deixou como primeira contribuição a meta do desenvolvimento.

Com efeito, a Populorum progressio abria, em 1967, novo item na agenda da Doutrina Social da Igreja e exortava os cristãos a buscarem nos campos econômico, social, cultural, ambiental e político um novo desenvolvimento. 

No plano econômico, esse desenvolvimento se designa participação e exige que todos os homens participem, em igualdade de condições, dos benefícios que as riquezas econômicas proporcionam.  

Na esfera social, o desenvolvimento significa inclusão e quer que todos tenham um lugar assegurado nos programas que o Estado de bem-estar social operacionaliza. 

No âmbito cultural, o desenvolvimento exige que a Cultura e as culturas sejam acessíveis a todos e que, cada vez mais, as culturas ancestrais dos povos sejam conhecidas, valorizadas e prestigiadas. 

Na seara ambiental, o que se espera do desenvolvimento, sobretudo diante das aflições por que passa a nossa casa comum (na feliz expressão do Papa Francisco), é a sustentabilidade, que exige das gerações presentes que não impeçam as gerações futuras da fruição dos abundantes bens da terra. 

Finalmente, no campo da política, o desenvolvimento se mostra como o melhor instrumento para que o humanismo ascenda ao primeiro plano das relações entre povos, nações e pessoas. 

A meta síntese da Populorum progressio consiste na conquista do humanismo integral, assim sintetizado na encíclica: do homem todo e de todos os homens. Esse humanismo, que o Santo aponta como devendo ser aberto ao absoluto, fará com que a caminhada da humanidade na busca da civilização do amor vença os imensos obstáculos a serem transpostos na longa travessia que ainda lhe resta percorrer. 

Não podemos ignorar esses obstáculos representados pelo materialismo, pelo egoísmo e pela cultura de morte.

Mas há um vento favorável que pode ser identificado na preocupação ecológica, na cooperação internacional e na acolhida que, apesar dos pesares, tem sido proporcionada a esta legião de refugiados que se movimentam mundo afora. E, principalmente, na agenda 2030 das Nações Unidas, que cuida dos objetivos do desenvolvimento sustentável, dentre os quais ressai a parceria global em prol do desenvolvimento. 

Parece mesmo que podemos antever, neste início do novo milênio, os sinais da era que São Paulo VI profeticamente denominou como a civilização do amor. 

Wagner Balera é Mestre, Doutor, Livre-Docente e Professor Titular de Direitos Humanos na Faculdade de Direito da PUC-SP
 

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