Opinião

O valor da construção de comunidades para o Brasil de hoje

O Papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate diz: “É muito difícil lutar contra a própria concupiscência e contra as ciladas e tentações do demônio e do mundo egoísta, se estivermos isolados. A sedução com que nos bombardeiam é tal que, se estivermos demasiado sozinhos, facilmente perdemos o sentido da realidade, a clareza interior, e sucumbimos” (GE 140). 

Como a Igreja pode ajudar nosso País se não pela formação de comunidades que não deixem as pessoas sozinhas, ao léu, nos ventos das ideologias, abandonadas às tantas mentiras políticas a torto e a direito, à confusão e ao desânimo? 

Diz a esse respeito o Compêndio de Doutrina Social da Igreja: “Único e irrepetível na sua individualidade, todo homem é um ser aberto à relação com os outros na sociedade. O conviver social na rede de relações que interliga os indivíduos, famílias, grupos intermédios (organizações sociais), em relações de encontro, de comunicação e de reciprocidade, assegura ao viver uma qualidade melhor. O bem comum que eles buscam e conseguem, formando a comunidade social, é garantia do bem pessoal, familiar e associativo” (CDSI 61).

Por isso, é tão urgente para o bem do nosso País que nós, católicos, trabalhemos com afinco e com amor para construir comunidades de irmãos; para ajudar a quem está sozinho a encontrar “uma casa de irmãos”. 

 “A atenção para compreender todo o ambiente (em que vivemos, trabalhamos ou estudamos), a oferta do nosso senso de comunidade a todas as pessoas do ambiente mede a abertura do nosso empenho humano, coincide com a sinceridade do nosso empenho com toda a humanidade. Não compete a nós excluir alguém da experiência da nossa vida humana; a escolha cabe somente a Deus, que a realiza por meio da situação na qual nos coloca” (GIUSSANI, L. Passos da Experiência Cristã, Companhia Ilimitada, São Paulo, 1993, pg. 25). O cristão, por isso, deve ser aquele que acolhe o diferente, procura o diálogo, procura compreender o que está no coração do outro e colocar-se junto com o mais sofrido, que muitas vezes vive em grande solidão. 

A consequência direta de quem vive e constrói comunidades é a correta relação com o Estado. A Igreja em sua sabedoria milenar diz que o Estado deve subsidiar, estar a serviço e financiar as comunidades e livres iniciativas dos cidadãos e não ser excessivamente grande, poderoso e totalizante ou provedor de tudo, mesmo para os pobres: 

“É impossível promover a dignidade da pessoa sem que se cuide da família, dos grupos, das associações, das realidades territoriais locais, em outras palavras, daquelas expressões agregativas de tipo econômico, social, cultural, desportivo, recreativo, profissional, político, às quais as pessoas dão vida espontaneamente e que lhes tornam possível um efetivo crescimento social” (CDSI 185). E diz ainda: “O princípio de subsidiariedade protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores e solicita a estas últimas a ajudarem os indivíduos e os corpos intermédios a desempenhar suas próprias funções. Este princípio impõe-se porque cada pessoa, família e corpo intermédio tem algo de original para oferecer à comunidade [...] Com o princípio de subsidiariedade, estão em contraste formas de centralização, de burocratização, de assistencialismo, de presença injustificada e excessiva do Estado e do aparato público“ (CDSI 187). Convido os leitores a procurar candidatos que se aproximem desses princípios, para o bem de todos.

 

Ana Lydia Sawaya é professora titular de Fisiologia da UNIFESP e conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP.
 
 

LEIA TAMBÉM: Maior comunidade da capital, Heliópolis recebe novas moradias populares

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.