Espiritualidade

Religião, política e responsabilidade social

Quando falamos de assuntos relacionados à religião e política, alguns são da opinião de que esses temas não devem se misturar, porque não há relação entre eles. Realmente religião e política são temas que devem ser tratados com independência, mas também não podemos negar que quando falamos de reponsabilidade social todas as dimensões da vida humana se encontram e se cruzam. Por esse motivo, é importante ter consciência da nossa responsabilidade, como pessoas de fé e cidadãos, frente às nossas opções políticas. Desde a Antiguidade, a Igreja sempre buscou despertar e confirmar nos seus filhos a certeza de que eles devem buscar o bem comum, trabalhando para construir o Reino de Deus, enquanto esperam a pátria definitiva.

Nas Sagradas Escrituras, encontramos muitas histórias que contam a relação entre a fé do povo de Deus e o governo que foi exercido por líderes carismáticos, a exemplo de Moises, de juízes como Gedeão e de reis, entre os quais Saul e Davi. Uma passagem do Livro dos Juízes, no capítulo 9, é particularmente interessante (Jz 9,7-15). O texto relata a atitude de Joatão e Abimelec, dois dos filhos de Gedeão, que foram procurados pelo povo para que assumissem o encargo de rei. Nesse tempo, Israel ainda não tinha rei, e o povo fez a sua escolha apenas por vontade humana e desejo messiânico. Joatão recusou a aclamação popular, por não ver nela uma coerência com os princípios da fé. Ele comparou a atitude do povo com a parábola das árvores que escolheram como rei um espinheiro e acabaram experimentando, debaixo de sua sombra, espinhos e fogo. Como esse texto pode contribuir para nossa reflexão hoje?

A escolha de governantes é uma exigência social, e o cristão precisa assumir isso como um dever e uma grande responsabilidade. Como primeira conclusão, partindo da parábola contada por Joatão, é preciso afirmar que as nossas escolhas políticas têm consequências para a nossa vida e se refletem na vida e no desenvolvimento da sociedade à nossa volta. Exatamente por isso, essa decisão exige um discernimento que é espiritual, que considera os valores da família, a promoção da vida, da justiça, o combate à pobreza e à violência. Mas essa decisão também exige um discernimento social, que acompanha projetos e propostas de cada candidato, sua idoneidade, suas prioridades e a capacidade de cumprir promessas, promovendo o bem comum.

Uma segunda conclusão parte do risco da apresentação de propostas falsas, baseadas em ideias messiânicas, e que tudo depende exclusivamente de um personagem escolhido e predestinado para esse momento de grandes dificuldades sociais, em que só ele será capaz resolver o problema. Com discernimento, Joatão recusou essa atitude pretenciosa, e a história do povo de Deus conta, de muitas formas, que não há transformação sem a restauração dos valores da vida e da família, nem há reconstrução sem o esforço comum. É preciso escolher com discernimento e atenção, sabendo que essa escolha também vai exigir o compromisso da continuidade do esforço e da participação.

A terceira conclusão fala da esperança que fomenta a caminhada do povo de Deus. Ao longo da história, muitos acontecimentos desafiaram a fé e a esperança do povo, mas quando tudo parecia não ter mais jeito, a esperança fazia brotar o ânimo para recomeçar. A esperança não é, de modo nenhum, uma atitude passiva que aguarda o desenrolar dos acontecimentos, mas ela gera um movimento de participação. Movido pela esperança, Joatão falou ao povo, que fez a sua escolha e conviveu com as suas consequências.

A esperança cristã está alicerçada na fé de que o Senhor, justo juiz, atua e se faz presente em cada acontecimento, e a plenitude desse agir foi revelada em Cristo Jesus, confirmada pela sua Ressurreição. Portanto, não esperamos mais nenhuma revelação, mas vivemos à espera da segunda vinda do Senhor, e, até que Ele venha, temos o compromisso de viver pela fé em meio aos acontecimentos do mundo. Esse compromisso exige de nós o discernimento sobre as nossas escolhas, sobre aquelas pessoais e sobre aquelas que têm um interesse social e político.

O espinheiro não pode proporcionar a segurança de sua sombra. Ele oferece apenas o fogo dos seus espinhos. Para saber quem é o espinheiro, faz-se necessário o bom uso do discernimento espiritual, sem criar ilusões messiânicas de nenhum tipo nem ideologia. Também é preciso considerar os acontecimentos à nossa volta, e como as escolhas políticas podem influenciar os rumos do nosso País. O futuro que esperamos começa com as escolhas de agora. Como cidadãos e como pessoas de fé, precisamos ouvir, refletir e dialogar para escolher bem.

 

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.