Cultura

Chorar por Dido é inútil

Dica de leitura

“Quando de sua célebre conversão sob a sombra de uma figueira, Santo Agostinho estivera em posição privilegiada no mundo cultural de seu tempo: dominava a arte da retórica e possuía, tanto quanto lhe era possível, amplo conhecimento do cânone literário latino. É compreensível, portanto, a reação de espanto que alguns leitores das Confissões manifestam diante do tom profundamente negativo com que Santo Agostinho fala de seu contato juvenil com Virgílio e o teatro. Por essa razão, foi sempre comum a pergunta sobre a real relação entre o Bispo de Hipona e o legado literário clássico. Este livro, que antes de chegar às Confissões se debruça sobre outros pontos críticos da produção de Santo Agostinho, coloca a questão em seus devidos termos a fim de revelar que o Doutor da Graça, para além de qualquer postura de negação ou repúdio, conhecia muito bem o potencial e as fraquezas comunicativas da literatura que lhe fora legada.”

“De todos os motivos que fazem das Confissões de Agostinho um dos clássicos incontestes do pensamento ocidental, um dos mais relevantes é a multiplicidade de temas humanos universais ali presentes. A relação do homem com a literatura e suas nuances (a ficção, a mentira, a beleza, o período histórico e cultural, os estímulos sensitivos...) é decerto um deles, mas as tentativas de interpretar o contato do santo doutor com a herança literária pagã jamais se deixou guiar por algo além da simplista pergunta: ‘Agostinho, no fim das contas, rejeitaria por completo a literatura de cunho ficcional, como dão a entender os trechos em que trata de sua paixão pela Eneida e pelo teatro?’.

‘Chorar por Dido é inútil’ vai além desse questionamento. O que vem à tona, nestas páginas, é a profunda complexidade do manejo que esse mestre da retórica e do estilo, futuro Doutor da Graça, dá a uma tradição literária da qual lhe seria impossível fugir, não obstante as exigências novas da fé cristã. Em poucas situações a genialidade de Santo Agostinho fica tão evidente. Com efeito, ao cabo da leitura deste livro, em qualquer leitor restará renovada a admiração por essa figura-chave da história do cristianismo.

FICHA TÉCNICA:

Autor: Hugo Langone

Páginas: 168

Editora: Filocalia

 

 

 

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