Comportamento

Histórias de família e a formação dos filhos

Gostoso hábito era cultivado antigamente nas famílias: longas conversas ao redor da mesa, aos domingos ou mesmo nas férias familiares. Nesses momentos,  compartilhavam- -se histórias, casos, acontecimentos. Avós contavam sua infância, de onde vieram suas famílias, como era a realidade quando eram crianças: do que brincavam, o que temiam, do que gostavam, como se relacionavam com seus pais.... Enfim, inseriam-se os jovens e crianças da família na história familiar. Tinham oportunidade de conhecer suas origens geográficas, culturais e relacionais. Momentos ricos, que ficavam guardados na memória. 

O que não se sabia era que esse costume comum no convívio familiar trazia tantos benefícios na formação das novas gerações da família. Pesquisas realizadas na Universidade de Emory, nos Estados Unidos, em 2010, mostram que crianças que conhecem as histórias de seus pais, avós e ancestrais, de modo geral, costumam ser emocionalmente mais bem resolvidas e, quando jovens, apresentam menos problemas comportamentais e de ansiedade, e maior autocontrole. 

 Conhecer a história familiar parece ser algo de extrema importância no sentido de saber-se pertencente a um grupo, que tem seus valores, seu modo de ver, pensar e agir. Traz uma possibilidade de se relacionar com o mundo, com as situações e com as pessoas a partir de um lugar – o da família que o gerou.  Esse sentido de pertença favorece a formação da identidade das crianças e causa uma sensação de bem-estar e equilíbrio. Segundo os pesquisadores Marshall Duke (Ph.D. em Psicologia Clínica) e Fiyush Robin (Ph.D. em Psicologia do Desenvolvimento), as crianças que conhecem sua história familiar constroem o que eles chamam de um forte “self intergeracional” -  e sabem que pertencem a algo maior do que eles mesmos. 

É importante sabermos, porém, que não se trata de simplesmente “ensinar” histórias familiares, mas sim de compartilhar memórias num ambiente agradável, com um clima de troca, de encontro, em que se cria o interesse, vivencia-se o afeto, o sentido de pertença e a possibilidade de reflexão. É interessante observar que, ao ouvir como pessoas reagiram ou agiram numa determinada situação, em outra época histórica e outras condições socioculturais, as crianças e jovens têm a possibilidade de refletir, de se identificar, de avaliar e se posicionar a respeito da vida. Também acabam por perceber a dimensão “passageira” da vida e especialmente das situações, sejam estas felizes, sejam adversas. 

Os pesquisadores também concluíram que, quando adultos, os que conheceram desde pequenos as histórias familiares tornam-se mais resilientes, tanto nas relações sociais, de modo geral, quanto nas relações familiares. Ou seja, tornam-se mais capazes de superar os momentos de adversidade, conseguindo se adaptar e crescer positivamente a partir deles. 

Infelizmente, hoje em dia, poucas são as famílias que mantêm vivo o hábito de conversar ao redor da mesa durante e após as refeições, de compartilhar memórias. O ritmo de trabalho e as evoluções tecnológicas acabam por “roubar” o tempo e o ambiente. Às vezes, apesar de estarem fisicamente próximos, os integrantes da família estão envolvidos cada um em uma conversa diferente em seu celular. 

Muitos pais se preocupam bastante com as escolhas e comportamentos de seus filhos adolescentes, acreditando que não conseguiram formá-los como gostariam. Parece-me oportuno refletirmos sobre como está em nossa família o hábito da conversa, da troca, do “jogar conversa fora”, sem pressa. Como estamos inserindo e valorizando os mais velhos no ambiente familiar, nas conversas aos domingos? Talvez estejamos perdendo um tempo precioso com jogos eletrônicos, conversas virtuais e deixando de lado a rica experiência de explorar nossa ancestralidade e, com isso, contribuir muito positivamente para a vida e a felicidade de nossos filhos. 

 

 

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