Editorial

Fake news, relativismo, verdade: o que nos liberta realmente?

Dada a atualidade do tema, muito se tem falado da mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2018, “Fake news e jornalismo da paz”. Mas nem tanta atenção tem sido dada à primeira parte do título, que, como sempre, é uma citação bíblica: “A verdade vos tornará livres” (Jo 8,32). 

Não nos damos conta que a proliferação das fake news , que sempre existiram, não é apenas um fruto das tecnologias de comunicação. Corresponde, como lembra o Papa, à nossa propensão a nos apegarmos àquelas ideias e informações que parecem mais nos convir, e à nossa tentação de mentir a nós mesmos quando isso nos permite ficar em nossa “zona de conforto”.

Elas não são apenas “mentiras espalhadas pelos nossos adversários”, mas também (talvez principalmente) “mentiras que nos seduzem”, porque se apresentam como respostas (falsas, é bom reafirmar) a um desejo nosso. “As fake news tornam-se frequentemente virais, ou seja, propagam-se com grande rapidez e de forma dificilmente controlável, não tanto pela lógica de partilha que caracteriza os meios de comunicação social, como, sobretudo, pelo fascínio que detêm sobre a avidez insaciável que facilmente se acende no ser humano”, adverte Francisco. 

Inicialmente, o relativismo, a ideia de que não existem fatos, apenas narrativas, pareceu ser um grande desenvolvimento do senso crítico e um serviço à nossa liberdade. Agora estaríamos livres para negar versões criadas apenas para legitimar nossa submissão e não precisaríamos seguir normas que não se adequassem à nossa vontade.

Mas tudo isso era mentira. Os fatos não deixam de ser o que são porque não foram narrados ou porque o foram de forma diferente. Milhares de seres humanos estão morrendo hoje. Ignorar esse fato pode aliviar-nos do sofrimento que nasce da empatia, mas não impedirá que eles morram. Nenhum de nós se tornará o super-homem porque se imaginou como tal. A realidade existe independentemente da nossa vontade e das narrativas que façamos sobre ela.

Insistir no relativismo, negar a existência da verdade, não é libertador, pelo contrário, torna-nos presas ainda mais fáceis dos mercadores de ilusão, que vendem falsas versões dos fatos para nos manipular e dominar. 

Nas palavras do Papa Francisco:

“O antídoto mais radical ao vírus da falsidade é deixar-se purificar pela verdade [..] Para discernir a verdade, é preciso examinar aquilo que favorece a comunhão e promove o bem e aquilo que, ao invés, tende a isolar, dividir e contrapor [...] não se acaba jamais de procurar a verdade, porque algo de falso sempre se pode insinuar, mesmo ao dizer coisas verdadeiras”.
 

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