Editorial

Campanha da Fraternidade

Todos os anos, durante o período da Quaresma, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove a Campanha da Fraternidade e, com ela, põe em pauta algum tema de relevância social, chamando a atenção para problemas que afetam a sociedade brasileira como um todo. Ao final, no Domingo de Ramos, e como gesto concreto, em todas as paróquias e comunidades católicas do País, realiza-se uma coleta de dinheiro, cujos frutos são, em parte, enviados ao Fundo Nacional de Solidariedade e usados para apoiar ações e iniciativas voltadas à promoção do bem comum, da fraternidade, da justiça, da defesa e socorro daqueles que, nos dizeres do Cardeal Odilo Pedro Scherer, “mais sofrem as conse- quências da ausência de fraternidade na vida social”. Outra parte, cerca de 60% do total arrecadado em cada diocese, é destinada às obras de evangelização e de misericórdia da própria igreja local.  

Este ano, o tema da CF – Fraternidade e superação da violência – toca no problema da violência em todas as suas formas, propondo a prática da justiça e da solidariedade como caminhos de resolução para tantos conflitos que imperam no dia a dia, gerando um clima de medo e insegurança quase generalizado. Os recentes assassinatos da vereadora  Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro, no Rio de Janeiro, que provocaram comoção nacional, mostram o quanto o tema da Campanha da Fraternidade deste ano é pertinente

Por vezes, fora da Igreja e mesmo dentro dela, surgem críticas à CNBB, afirmando que, por um lado, ao debruçar-se sobre tais problemas em suas campanhas anuais, a Igreja no Brasil está tentando ingerir-se em questões que são próprias do Estado e da política, ou, por outro lado, que ela está negligenciando sua verdadeira missão, que, na visão de tais críticos, deve ser estritamente de caráter espiritual. Inadvertidamente ou não, esses críticos, por razões e motivações diferentes, terminam por incorrer no mesmo erro: o de conceber a vida cristã como algo separado da vida e do mundo concreto em que vivemos, com toda a sua complexidade.  

Tais visões separam a prática da religião do dia a dia e colocam a pessoa humana em dois mundos paralelos que nunca se encontram: o mundo espiritual, em que se situa a vida religiosa, e o mundo prático material da vida cotidiana, como se um não devesse incidir jamais sobre o outro. Nesse sentido, “espiritualistas” e “laicistas” coincidem em um ponto: o desejo de confinar a prática da religião ao âmbito exclusivo da vida privada e encerrá-la nas sacristias.

Nesse sentido, vale a pena reproduzir aqui o que explicou o Cardeal Odilo Pedro Scherer em um artigo publicado em sua coluna do jornal O Estado de S. Paulo, em 10.03.18:

“Com a Campanha da Fraternidade, a Igreja Católica não deixou de lado a sua missão religiosa, nem se alinhou a nenhuma ideologia, partido político ou governo. O pressuposto dessa ação é sempre o da fé cristã, em que o amor a Deus e o amor ao próximo são inseparáveis. Quem deseja viver a fé de modo coerente não pode ficar alheio ao que se passa ao seu redor.  

Vale lembrar as recomendações aos cristãos dadas pelo apóstolo São João já no início da Igreja: ‘Filhinhos, não amemos só com palavra e de boca, mas com ações e de verdade’ (1Jo 3,18). De modo semelhante, o apóstolo São Tiago respondeu a quem pensava que a fé cristã fosse apenas interior, sem implicações na vida social: “Meus irmãos, de que adianta alguém dizer que tem fé, quando não tem obras? (...) A fé, se não se traduz em ações, é morta em si mesma” (cf. Tg 2,14-17).
 

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