Fé e Cidadania

Um momento de grande transformação que exige muita reflexão

Quem negará que o País está vivendo um momento de grande transformação? Mudanças radicais na política, grandes mobilizações sociais com milhões de pessoas nas ruas, quer para protestar contra um governo, quer para se divertir e pular o carnaval. Até o carnaval está mudando! Quem diria: milhões de pessoas organizando blocos? 

A vida não é mais “a mesma de sempre” e é cada vez menos privada ou individual. Há um desejo claro, um anseio comum de se encontrar, se comunicar, de lutar ou viver junto com os outros. Imaginar que cada um ia se enfurnar atrás do seu computador solitariamente, como muita gente dizia um tempo atrás, não representa uma percepção correta, pois a realidade está indo na direção oposta. 

Mas para aonde? Por quê? O que estamos buscando? Ainda parece pouco claro. Outra demonstração dessa transformação em ato é que a maioria das pessoas não sabe em quem votar, e não só porque não há mais esquerda ou direita. Tudo parece fluído, mas não o desejo das pessoas que cresce e se mobiliza. A cidade tem se tornado cada vez mais um espaço público e de convivência.

A percepção da importância da política cresceu em todas as camadas sociais, assim como o desejo de se divertir, ver ou fazer coisas bonitas, como as belas fantasias de carnaval ou as bandas que tocam música de fim de semana na avenida Paulista. Há os excessos, mas estes não parecem ser a regra. 

E a Igreja, como a instituição mais antiga, com uma história milenar, tem algo a dizer para ajudar as pessoas? E Cristo, seu fundador, como está presente? Sabemos que Ele não morreu, mas vive conosco para sempre, pois é o Deus Emanuel. Mas o que Ele nos diria agora? 

Precisamos de profetas! São eles que ouvem o Senhor e nos comunicam suas palavras. Nós cristãos sabemos quem são eles, os santos de cada época que indicam a estrada do novo, como aconteceu com os mosteiros e a reconstrução da Europa ou as ordens mendicantes e a mudança da sociedade medieval para as cidades.

Estamos iniciando a Quaresma, e este é um momento privilegiado para rezar, ouvir com atenção o que o “Espírito fala às Igrejas”, viver a caridade e a atenção aos outros e ser vigilante e atento no uso das coisas materiais. Esses são instrumentos que a sabedoria da Igreja entrega na mão de cada um de nós, indicando que cada um tem um coração ao qual o Senhor fala. É o momento mais propício do ano para que cada um possa dizer em seu coração como o profeta ainda menino: “Senhor fala que o teu servo escuta”. E não nos esqueçamos que a Igreja está pedindo que todos reflitamos e nos engajemos até em atividades concretas para fazer frente à violência que assola o nosso País. 

“Hoje não fecheis o vosso coração, mas ouvi a voz do Senhor”, nos diz a antífona de Quaresma. Um momento de grande transformação exige muita reflexão e escuta!

Ana Lydia Sawaya é professora titular de Fisiologia da Unifesp - campus São Paulo e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP

As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO

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