Editorial

Tempo de férias, tempo de liberdade

Janeiro é, quase que por definição, o “mês das férias”. Afinal, no Brasil, nada acontece antes do carnaval. Do clima aos comportamentos, é um tempo de extremos. Muito sol, muito calor, muito tempo nublado, muita (muitíssima) chuva. Ruas vazias, estradas cheias. Alegria das festas, tristeza dos acidentes – muitos evitáveis. Tranquilidade e tempo para o lazer, preocupação com o que fazer com as crianças sem aula. 

Naturalmente, nesse período, a reposição das energias gastas ao longo do ano e o descanso necessário são prioridades. Corpo e mente precisam recuperar-se inevitavelmente. Mas seria desumano reduzir as férias apenas a um tempo para recuperar as forças para o trabalho estafante do resto do ano. Se olharmos com realismo para o período das férias, veremos que esse muitas vezes é um tempo que mostra a falsidade do nosso modo de vida.

Quantos – inclusive nós mesmos em muitas ocasiões – não parecem trabalhar apenas para poder depois aproveitar as férias? Um cotidiano estafante e desprovido de sentido, compensado por um mês de viagens, um fim de semana para se divertir, um carnaval para esquecer o resto do tempo: esse é o ideal mais radical de quem não tem um sentido para a vida. 

E existem aqueles (muitos) que não sabem o que fazer com as férias! “Viciados em trabalho”, solitários, deprimidos, são pessoas que, por motivos até bem diferentes, não sabem o que fazer com esse tempo livre que lhes é dado. Algumas vezes sem se dar conta, outras vezes vivendo isso dolorosamente, testemunham que o direito ao tempo da própria vida lhes escapou.

Numa perspectiva muito melhor do que essa, as férias são o tempo para encontrarmos aquilo que nos falta do cotidiano: a beleza do mundo, descoberta em viagens e passeios; a harmonia que nasce no convívio com a natureza e com os exercícios ao ar livre; o calor do afeto no tempo passado com os filhos, os pais e outras pessoas amadas. Nesse caso, o tempo de férias não é uma consagração ao vazio, mas justamente a chance de redescobrir aquilo que o preenche, aquilo pelo que vale a pena viver. 

Essa última perspectiva, ainda que boa, pode ser melhor. As férias deveriam ser o tempo para celebrar o grande encontro que dá sentido a todos os outros encontros. Isso não quer dizer uma postura moralística. Não se trata, por exemplo, de negar todos os prazeres e alegrias que o tempo de ócio nos permite ou de sentir-se obrigado a rezar antes de brincar – mas de fazer a experiência de que a oração pode tornar a brincadeira muito mais rica e pode fazer com que esta e o trabalho se tornem momentos para saborear a alegria daquele grande encontro que dá sentido à nossa vida. 

As férias são o tempo da verificação daquilo que realmente conta para o nosso coração. Liberados das atividades compulsórias de nosso cotidiano, podemos fazer aquilo que nosso coração realmente deseja. Um momento de liberdade para sermos mais livres em todos os demais momentos da vida.
 

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