Bioética e defesa da vida

A ética para um futuro de esperança

Ao longo das discussões do 41º. Congresso de Teologia Moral, realizado em São Paulo, no Centro Universitário Salesiano (UNISAL)/Campus Pio XI, de 28-31 de agosto de 2017, fizemos a dolorosa constatação, quase que em uníssono, é que hoje existe uma crise de confiança no futuro. Cresce assustadoramente o número dos ateus em relação a um futuro promissor para a humanidade.  O nosso estimado e querido Papa Francisco é o único no mundo de hoje, entre os líderes mundiais que tem a coragem de falar a respeito de necessidade de esperança e que temos que nos cuidar dos “profetas da desgraça”!  Não é à toa que a última obra póstuma de Zigmunt Bauman, este pensador que faleceu no início de 2017 tenha como título Retropia.   Ele afirma que em relação ao futuro temos somente coisas ruins anunciadas: aquecimento global, crescente exclusão dos migrantes pobres, crescimento da xenofobia (Europa), falta de emprego para todos os que entram no mercado, globalização que aumenta a exclusão, entre outros.  Neste sentido o progresso em curso, “deixa de ser uma benção” para se tornar também uma “maldição”. E o único lugar onde vamos nos encontrar realmente “seguros” será no passado. Daí a tendência “retro”, isto é, de ver o futuro no passado!  Bauman chega a afirmar na conclusão de seu pensamento, que se não formos capazes de nos dar as mãos frente a estes desafios que nos atormentam, “ganharemos todos sepulturas comuns”.

Assim lembramos, nesse Congresso de Teologia Moral, do que já dizia o teólogo italiano de renome internacional, Bruno Forte, hoje bispo de Chieti (Italia), no tocante a realidade em que hoje vivemos.  Na sua palestra no Congresso Internacional de Teologia Moral, emTrento, Itália, em 2010, utilizou, para descrever os tempos de hoje,. a metáfora do naufrágio, no bojo da qual nasce a necessidade de ética e transcendência. Afirma Forte que o barco da humanidade naufragou no mar revolto da história, e os instrumentos que possibilitariam navegação tranquilo, direção certada e chegada a terra firma estão todos danificados. Estamos perdidos em alto mar, e com sério risco de afogamento. O que fazer?  Os náufragos necessitam uns dos outros para sobreviver. Se forem uns contra os outros, é o fim de tudo. Se se ajudarem e uns forem para e pelos outros, com o que resta da embarcação, pedaços de tabuas, botes salva-vidas, terão chances de chegar vivos na praia.  E aqui Forte fala da primeira das quatro dimensões de uma ética teológica necessária para o hoje da humanidade: nunca sem o outro. Não existe ética sem o reconhecimento do outro, na sua irredutível originalidade.  A segunda dimensão é reconhecer que no princípio de tudo, está o dom. Não existe ética sem a gratuidade, a começar pelo valor da própria vida humana.  Hoje se coloca preço em tudo, uma precificação da vida que lhe subtrai a dimensão de dom! A terceira dimensão é que não existe ética sem a prática da justiça.  Precisamos conjugar a ética com a prática da justiça e da solidariedade com os últimos da terra. É isto que faz com que na “aldeia global”, sejamos uns pelos outros, e não uns contra os outros. É, isto que proporciona as condições de navegabilidade do barco da humanidade.  E por fim, a quarta dimensão, a necessidade de uma ética da transcendência. Aqui emerge o rosto do outro como soberano. O amor pelos “últimos” da terra nos remeta ao “Amor último”. A ética da transcendência é a ética do amor e da esperança.

É esta visão e tábua de valores que pode servir como nosso GPS para guiar o barco da humanidade dando-lhe condições de navegabilidade para singrar os mares agitados da história do presente em direção ao futuro.  Não podemos deixar de nos alegrar com a inconteste liderança no cenário mundial que o Papa Francisco tem hoje, e ao nos chamar para cultivarmos a teimosia da esperança. Necessitamos urgentemente de uma ética da esperança. Lembramos de um dos pastores profetas de nossa terra que nos deixou recentemente, Dom Paulo Evaristo Arns. Ele tinha como lema pastoral de vida, para animar o povo e iluminar caminhos, caminhar sempre em frente “de esperança em esperança”!  Não deixemos pois que “nos roubem a esperança” (Papa Francisco).

 

 

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