Editorial

Aparecida, 300 anos de devoção

A realidade à nossa volta está profundamente marcada pelas atividades repetitivas e cotidianas. Consequentemente, cria-se a impressão de que o tempo transcorre mais rápido e os compromissos passam a se sobrepor uns aos outros numa rotina árida e sem brilho. Além disso, estamos envolvidos por um fluxo de informações e por uma constante exigência de atualização, que não deixam espaço para momentos de encanto e contemplação, acostumando-nos cada vez mais a respostas automáticas.

No entanto, o ser humano é um mistério, que não encontra o sentido da vida numa existência pálida e sem brilho, pintada a tons de cinza. Cada pessoa traz em si mesma um apelo de sentido e um desejo de colorir as experiências vividas. O sentido só pode ser encontrado quando se estabelece uma verdadeira relação pessoal e dialogal, e é neste momento que a experiência religiosa encontra a sua relevância, pois as criaturas só acham a razão da sua existência no encontro com o Criador. 

A devoção mariana é uma experiência religiosa autêntica e derivada da fé cristã, pois Maria é mãe de Deus, e Jesus, Filho de Deus. Desde o princípio do Cristianismo, a Igreja procurou esclarecer e defender as verdades da fé e relação hierárquica entre si. Assim foram estabelecidos os princípios daquilo que se chama de ortodoxia da fé, que inclui o culto e a devoção mariana e a sua relação com o Mistério Pascal de Cristo. 

Porém, ao longo da história, por conta da inculturação da fé, a autêntica devoção mariana recebeu diferentes interpretações. Muitas culturas e diferentes nações conhecem a devoção à Mãe de Deus por meio de uma imagem ou de um título particular, que geralmente está ligado a uma súplica e uma intercessão da Virgem Maria. Essa forma inculturada da fé e da devoção responde autenticamente àquela busca de sentido para os acontecimentos da vida, que é desejo comum. No Brasil, o título mais conhecido é o de Nossa Senhora Aparecida, a Padroeira do Brasil.

A história da devoção de Aparecida começou com uma pequena imagem quebrada, que foi recolhida das águas do rio Paraíba do Sul por três pescadores, no ano de 1717. Com o tempo e o crescimento da devoção, foi construída a grande basílica bem como a estrutura para acolher os milhares de romeiros, que durante todo o ano visitam o Santuário Nacional de Aparecida.

Os romeiros que peregrinam a Aparecida chegam carregados de experiências e esperanças. O grande salão dos ex-votos guarda milhares de objetos trazidos como um sinal das graças alcançadas: ali depositam-se peças em cera, representando partes do corpo humano, roupas, joias, imagens, fotografias e uma variedade de outras coisas. 

Os 300 anos de devoção a Aparecida demonstram a força da religiosidade, que leva as pessoas ao Santuário e que quebra o ritmo cotidiano marcado pela rotina árida e sem brilho. Quando passa pela grande porta de entrada, o romeiro recebe uma palavra e um convite da Mãe de Deus, “Fazei tudo o que Ele vos disser”. No interior do Santuário, diante da pequena imagem de Nossa Senhora Aparecida, cada peregrino apresenta os seus pedidos, súplicas e agradecimentos carregados de esperança. 

Os homens e mulheres que vão a Aparecida sabem que o sentido da vida não pode ser encontrado apenas nas experiências humanas e materiais e reconhecem a existência e a ação de Deus, que age de forma misteriosa. Desse modo, nem a religiosidade e nem a devoção mariana são contrarias à fé, mas antes são a legítima expressão de corações suplicantes e agradecidos, que querem louvar a Deus, na casa da Mãe Aparecida.

Viva a Mãe de Deus e nossa!
 

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