Editorial

Religião e educação

A cultura moderna difundiu uma mentalidade laicista, que leva a novos cultos: o da autonomia individualista (puramente ilusória) ou o do poder do Estado. Imagina-se que o senso religioso é apenas um sentimento íntimo, sem relação com a vida concreta, e que as diferentes igrejas são organizações ideológicas, dedicadas a um proselitismo que não passa de uma forma de hegemonia e dominação das consciências.

Na verdade, o senso religioso costura todas as dimensões de nossa vida, dando-lhe sentido e coerência. Está presente em todos, mesmo que ateus e agnósticos deem-lhe outros nomes. Por isso, tanto o ateísmo radical quanto o hedonismo desenfreado muitas vezes se apresentam com um fervor quase sagrado. As religiões organizadas são, em primeiro lugar, tentativas do espírito humano de sistematizar a experiência nascida do senso religioso.

Nenhum Estado pode querer dar uma forma sintética e única à experiência religiosa de um povo, homogeneizando a sua diversidade de crenças. Não existe um indivíduo neutro que possa discorrer sobre todas as crenças religiosas com isenção, colocando-se acima delas. Supor alguém assim seria uma falácia mais danosa à verdadeira autonomia das consciências do que os proselitismos arraigados - que pelo menos se apresentam como são na verdade.

Diante dessas dificuldades, muitos acreditam que o ensino religioso deveria ser eliminado das escolas públicas, para que nenhuma crença viesse a se sobrepor às demais. Porém, isso também é perigoso! Sem um trabalho sistemático para que os jovens desenvolvam sua própria reflexão religiosa, conhecendo as crenças religiosas de sua família e sua comunidade, torna-se mais fácil que “falsos profetas” os convençam a seguir propostas que levem ao desrespeito e à violência contra os demais.

A melhor solução que se apresenta ao ensino religioso nas escolas públicas ainda é o modelo facultativo e confessional – modelo esse que foi ratificado, em 27 de setembro, em julgamento realizado pelo Supremo Tribunal Federal. Sua realização pode ser difícil, mas é importante e necessária.

A presença da religião na vida escolar se torna ainda maior num contexto em que a violência se tornou um significativo obstáculo à qualidade do ensino, conforme mostrado em ampla matéria veiculada nesta edição do O SÃO PAULO. A experiência religiosa não é, em si, uma solução para os problemas de violência – a história mostra, inclusive, que a compreensão errônea das religiões pode levar a mais violência. Entretanto, é inegável que uma religiosidade sadia ajuda as pessoas a enfrentarem a violência e darem-se as mãos.

A escola precisa da contribuição da religião, não como discurso abstrato, mas como uma sabedoria que se entrelaça com a própria vida pessoal no interior de uma comunidade iluminada pelo amor.

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