Liturgia e Vida

O ‘sim’ que desfaz o ‘não’

Jesus conta aos sacerdotes e aos anciãos do povo uma pequena história de dois irmãos, um que diz “sim” e não faz, e outro que diz “não” e faz. O pai mandou os dois trabalharem na roça. O primeiro disse: “Não vou”, mas, depois, repensou o que tinha dito e foi. O outro disse: “Está bom. Eu vou”, mas não foi. Jesus, então, pergunta: “Qual dos dois fez a vontade do pai?”

A história se aplica aos sacerdotes e anciãos do povo que dizem “sim” à Lei de Deus e nem sempre a cumprem, enquanto os cobradores de impostos e as prostitutas, publicamente considerados pecadores, ouviram a pregação de João Batista sobre o caminho da justiça e acreditaram nele. Os religiosos também ouviram, mas não acreditaram e não se converteram.

Jesus está ensinando que a nossa palavra precisa ser comprovada por nossos atos. Podemos dizer “Senhor, Senhor” e não fazer o que Deus quer. E, por outro lado, podemos simplesmente fazer a vontade de Deus sem dizer “Senhor, Senhor”. Até onde sou responsável pelo que digo e pelo que não digo, pelo que faço e pelo que deixo de fazer?

Quando ouvimos que “eu sou eu e a minha circunstância”, isto significa que, para sobrevivermos, precisamos da realidade que nos cerca, e significa também que o meu comportamento pode ser resultado do ambiente em que vivo. Somos todos dependentes uns dos outros. Ninguém se basta a si mesmo. No entanto, o profeta Ezequiel não nos isenta da responsabilidade pessoal. Mesmo com uma liberdade limitada, somos responsáveis pelos nossos atos. Temos uma inteligência que ilumina a realidade que nos envolve e temos uma vontade que diz “sim” ou “não” às decisões que devemos tomar. O melhor para a tranquilidade do nosso coração é que a palavra interna corresponda à palavra externa, e que ambas possam ser verificadas naquilo que se faz. As decisões tomadas e as ações praticadas atingem os nossos sentimentos internos, por isso o profeta fala de morte  para quem faz o mal e vida para quem pratica o bem, referindo-se ao que acontece no interior da pessoa.

Quando São Paulo exorta os filipenses a terem “o mesmo sentimento que existe em Cristo Jesus”, ele espera que vivam humildemente a palavra da verdade, que fez Jesus obediente até a morte de cruz. Com este sentimento, unidos no amor, viverão em responsável harmonia. Responsabilidade significa o exercício correto da liberdade. Na liberdade dos filhos de Deus, podemos desfazer o “sim” com o “não” e o “não” com o “sim”, porque o “não” pode ser tão verdadeiro quanto o “sim”. O que resta sou eu com a minha liberdade. 

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