Fé e Cidadania

O clima e o final dos tempos

Em 1997, portanto há 20 anos, começava o longo processo de discussão internacional sobre a proteção do clima. Tudo culminou com a assinatura do chamado Acordo de Paris, em 2015. Ficou acertado ao longo desse tempo que os países cuidariam de reduzir a produção de gases que provocam o chamado efeito-estufa e que outras tantas medidas para a proteção do planeta seriam adotadas ao longo do tempo.

A realização da cúpula do G-20, que reúne os países representativos de quase 90% da economia mundial, assinalaria o momento de concretização desse conjunto de providências.

A cúpula, porém, não teria um final feliz, como ficou evidenciado pelo anuncio antecipado pelo Presidente dos Estados Unidos, Trump, de que iria retirar seu apoio ao Acordo. Disso tomaram nota os membros do G20, sem que possam fazer nada a respeito.

O grave problema é que o mau exemplo dos Estados Unidos já foi seguido pela Turquia, que nem mesmo assinara o documento, e só por muita habilidade da diplomacia alemã não gerou a ruptura da Arábia Saudita e da Indonésia. Isto é, antes mesmo de produzir efeitos, o acordo já está sendo violado.

Ao inserir na pauta da Doutrina Social da Igreja, que desde a edição da histórica Rerum Novarum, para além dos aportes relativos ao mundo do trabalho, da paz e do desenvolvimento, agora também se ocupa do tema ambiental, o Papa Francisco explicitou que existe, e ninguém deixa de reconhecer, verdadeira “divida ecológica” posto que: “O aquecimento causado pelo enorme consumo de alguns países ricos tem repercussões nos lugares mais pobres da terra”.

E, no ponto 52 da Laudato Si’, o Papa exorta, com claridade: É necessário que os países desenvolvidos contribuam para resolver essa dívida, limitando significativamente o consumo de energia não renovável e fornecendo recursos aos países mais necessitados para promover políticas e programas de desenvolvimento sustentável.

Percebe-se a objetividade da proposta: quem poluiu além da conta deve, necessariamente, limitar o consumo de modo a que os demais possam incrementar o respectivo desenvolvimento que, decerto, exigirá maiores demandas energéticas.

Embora o Presidente Francês, Macron, que acaba de tomar posse, tenha mantido a esperança acesa ao anunciar que outra cúpula mundial será convocada para o próximo mês de dezembro, em comemoração ao segundo aniversário do Acordo de Paris, é certo que o clima está muito quente e a combustão pode fazer derruir, em uma imensa bola de fogo, todo o mundo.

 

As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editoriais do O SÃO PAULO.

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