Fé e Cidadania

Um domingo de 50 anos

“A Ressurreição de Jesus é tão fundamental para a nossa vida que, desde os primeiros séculos, os cristãos celebram este tempo como um só domingo, uma única festa de Páscoa”, escreve o liturgista italiano Silvano Sirboni. 

Evento de tal magnitude passa a figurar como divisor de águas entre um antes e um depois, ponto de chegada e ponto de partida. Em relação ao passado, a Páscoa celebra a grande passagem da escravidão para a liberdade. Experiência fundante para o povo de Israel, a libertação do Egito será uma referência para todo o Antigo Testamento. O êxodo através do deserto terá como horizonte de esperança a Terra Prometida “onde corre leite e mel”. 

Em relação ao futuro e ao desenvolvimento do Cristianismo, a Páscoa celebra a Ressurreição de Crtisto. Também neste caso, o evento representa uma passagem das trevas para a luz, da morte para a vida. Vitória sobre o pecado e sobre as forças do mal. Igualmente aqui estamos diante de uma experiência fundante, que as mulheres e os apóstolos, depois seus sucessores, encarregar-se-ão de proclamar a todos os povos e nações. 

Neste tempo de Páscoa – da Vigília Pascal ao Domingo de Pentecostes – somos convidados a celebrar a vitória sobre a escravidão, o pecado e a morte. Em relação ao horizonte da história, porém, somos convidados a superar toda espécie de condição que escraviza e avilta a dignidade humana. A visão do “túmulo vazio”, ao lado do encontro com o Ressuscitado, estimula os apóstolos e as primeiras comunidades cristãs ao anúncio do Evangelho como Boa-Nova. 

Deixar o túmulo! “Sai para fora”, disse Jesus a Lázaro! Existem os túmulos pessoais e familiares do medo e da angústia, da dúvida e da inquietude, do desamor e das discórdias, da inveja, do ciúme e do ódio. E, entrelaçados a estes, existem os túmulos sociais das assimetrias e desigualdades socioeconômicas, da violência e das injustiças, do escândalo entre acumulação da riqueza e exclusão social, da pobreza, da miséria e da fome. 

Combater o pecado, a escravidão e a morte – eis o desafio a que nos impele o sepulcro vazio após a Ressurreição de Jesus. Evitar o isolamento em egoísmos de ordem pessoal ou em situações de interesse particular; celebrar as potencialidades da vida em todas as suas formas. Páscoa é sinônimo de vida nova. Renovada em seus fundamentos e em seu horizonte, iluminada pela luz que emana do mistério da Morte e Ressurreição do Senhor; abandonar nossos pequenos túmulos e avançar para a conquista e a defesa dos direitos humanos, da justiça e da paz.

 

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