Liturgia e Vida

‘Tu és o Meu Filho amado’

A Igreja distingue três eventos principais de “epifania” - ou “manifestação” - de Cristo entre os homens. O primeiro é a visita dos Magos, guiados pela estrela, a Belém. Nessa ocasião, o Salvador foi reconhecido e adorado por representantes de povos pagãos. O terceiro é o “início dos sinais” em Caná. Ao transformar a água em vinho - instigado por Nossa Senhora -, Jesus “manifestou a Sua glória e os discípulos creram n’Ele” (Jo 2,11). 

O segundo entre esses eventos foi o Batismo do Senhor no Rio Jordão. Então, deu-se a primeira “manifestação” da Santíssima Trindade: “o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre Jesus em forma visível, como pomba. E do céu veio uma voz: ‘Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer’” (Lc 3,21-22). O Pai e o Espírito Santo testemunharam que Jesus é o Ungido e Filho de Deus. Ele é “Aquele mais forte do que eu” anunciado por João, de quem o Batista não se sentia “digno de desamarrar a correia de Suas sandálias” (Lc 3,16). 

Alguns se perguntam, no entanto: por que Jesus, sendo Filho de Deus desde toda a eternidade e que, portanto, não tinha necessidade de Se purificar de pecado algum, quis ser batizado por João? Uma resposta pode ser sintetizada em três razões principais: para santificar as águas, por humildade e para nos deixar o exemplo.

Quando as águas do Jordão tocaram a pele do Senhor, não foi Ele a ser santificado, mas as próprias águas. A partir de então, a água, criatura simples de Deus, tornar-se-ia instrumento indispensável para o “Batismo no Espírito Santo” (o Sacramento do Batismo), comunicando assim a vida da graça. Doravante, não seria mais um símbolo do dilúvio e do mar hostil, mas da vida espiritual e da salvação: “Quem crê em Mim, do seu interior correrão rios de água viva” (Jo 7,38).

Na Cruz, Jesus seria “contado entre os malfeitores” (cf. Is 53,12). Por isso, não se envergonhou de, como se fosse pecador, entrar na fila dos que iam até João para receber o Batismo de remissão dos pecados. Ele era ab
solutamente inocente, pois assumiu nossa condição em tudo, exceto no pecado (cf. Hb 4,15). Porém, durante o Batismo, Cristo antecipou humildemente o “batismo” que viria depois: “Tornando-se semelhante aos homens, humilhou-Se fazendo-Se obediente até a morte e morte de Cruz” (cf. Fl 2,7-8).

Além disso, deixou-nos um exemplo perpétuo: se até mesmo o Autor do Batismo desceu até as águas, quanto mais nós pecadores! Por isso, a vida de fé do cristão se inicia com este acontecimento único: o sacramento do Batismo. 

Por meio dele, recebemos o perdão do pecado original e dos pecados pessoais; a filiação divina sobrenatural; as virtudes teologais; a graça santificante e a inabitação do Espírito Santo; somos consagrados a Deus; incorporamo-nos ao Corpo de Cristo, participando dos bens espirituais da Igreja; e tornamo-nos herdeiros do Céu! Por causa dele, podemos fechar os olhos, invocar o Espírito de filhos que habita em nós, e dizer, com confiança, igual a Cristo: Abbá, Pai!
 

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