Editorial

Transmitindo a fé por meio do presépio

Em sua recém-publicada Carta Apostólica Admirabile Signum, o Papa Francisco nos relembra “o significado e o valor do presépio” – esta “bonita tradição” que ele espera “nunca desapareça” e “onde porventura tenha caído em desuso, se possa redescobrir e revitalizar”.
Mas por que, afinal, representar com imagens a Natividade, se os Evangelhos já o fazem com palavras? A razão – que, por sinal, se aplica a toda iconologia católica, tão incompreendida ao longo da História – é didática: tanto as imagens (pintadas, esculpidas ou entalhadas) quanto as palavras (pronunciadas ou escritas) são meros símbolos das coisas que representam, porém, aquelas, sobretudo quando harmoniosas e belas, são muito mais aptas a mover nossos afetos do que estas, e conseguem transmitir sua mensagem desde o iletrado até o mais erudito dos homens. O presépio, de fato, “é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura”, e que nos permite “repropor, com simplicidade, a beleza da nossa fé”.
São Francisco de Assis foi quem primeiro propôs encenar a Natividade, pois desejava “representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha de uma manjedoura, entre o boi e o burro”. Assim se deu o primeiro presépio, com grande comoção de todos os presentes – e inclusive com uma solene celebração eucarística, mostrando a estreita ligação entre o Filho de Deus e a Eucaristia.
E este enlevo, por que o sentimos todos ao mirar o presépio? “Antes de mais nada, porque manifesta a ternura de Deus. Ele, o Criador do universo, abaixa-Se até à nossa pequenez”. É que Deus queria não apenas que nós O amássemos, mas também que o fizéssemos com um amor terno: quem, afinal, resistiria a amar com toda a ternura um Deus feito Menino, nascido pobre e desprezado, chorando de fome e tremendo de frio, entre o boi e o jumento, na palha de sua manjedoura? Daí que São Francisco exclamasse inflamado: “Amemos o Menino de Belém!”.
O Papa nos fala também da simbologia dos demais elementos do presépio: a noite escura e estrelada, indicando que “Deus não nos deixa sozinhos”, até mesmo quando “a noite envolve a nossa vida”; as ruínas de casas e palácios antigos que por vezes substituem a gruta, mostrando que “Jesus é a novidade no meio de um mundo velho”; as montanhas, riachos e ovelhas, anunciando que “toda a criação participa na festa da vinda do Messias”; os pastores que acorrem enquanto Belém dormia, advertindo que são os pobres de espírito que sabem acolher em seu coração a Encarnação; e também aquelas outras figuras que muitos costumam ajuntar, “do pastor ao ferreiro, do padeiro aos músicos, das mulheres com a bilha de água ao ombro às crianças que brincam... tudo isso representa a santidade do dia a dia, a alegria de realizar de modo extraordinário as coisas de todos os dias, quando Jesus partilha conosco a sua vida divina.”
E, enfim, entornado da obediência e fidelidade de Maria e José, o Menino-
-Deus – modo com que Deus Todo-Poderoso se manifesta “para fazer-Se acolher nos nossos braços” e “revelar a grandeza do seu amor, que se manifesta num sorriso e nas suas mãos estendidas para quem quer que seja”.
Esta tradição, diz o Papa, faz lembrar os “tempos em que se era criança e se esperava, com impaciência, o tempo para começar a construí-lo” – mas também nos urge a “tomar consciência sempre de novo do grande dom que nos foi feito, transmitindo-nos a fé”, e “sentir o dever e a alegria de comunicar a mesma experiência aos filhos e netos”: “O presépio faz parte do suave e exigente processo de transmissão da fé!”.

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