Comportamento

Sobre a importância da ‘vontade externa’ no começo da vida

Hoje, gostaria de me deter um pouco sobre um assunto que me parece fundamental na educação de crianças pequenas: entendermos a necessidade de que façamos as escolhas por elas com total segurança. É evidente a dificuldade que os pais estão vivendo de decidir pelos pequenos, dando ouvidos desde muito cedo aos seus “gostos e quereres”, como costumam chamar.

Bem, vamos iniciar entendendo como funcionam as crianças pequenas. Crianças, na primeira infância (especialmente até os 4 anos), agem respondendo aos seus desejos sensíveis: se têm fome, comem (ou mamam); se sentem dor, choram; se estão irritadas, gritam, mordem, choram; se querem algo, pegam... Enfim, seus atos são reações aos estímulos sensíveis – não há razão envolvida nesses atos. Não existem “preferências” nem vontades, somente o desejo que tende ao prazer imediato. Isso significa que elas não conseguirão agir de modo contrário ao que “pede” o seu desejo. Assim, podemos dizer que, nessa fase, as crianças encontram-se “escravas” dos desejos sensíveis, afinal seus atos são reações e não ações. Esses pequenos, se atuarem sem uma supervisão, agirão em busca de prazer imediato. 

Como adultos, sabemos que não seremos livres nem fortes se nos submetermos aos desejos. Se queremos que nossos filhos se tornem pessoas fortes e capazes de viver com liberdade, precisaremos ensiná-los a não buscarem o prazer imediato, mas sim aquilo que é bom e que trará felicidade a longo prazo.

Outra coisa que sabemos é que o ser humano, por natureza, é um ser que precisa do outro para crescer. Os demais animais, por instinto, sobrevivem e podem ser deixados pelos “pais” num período bem curto após o nascimento. Nós, seres humanos, precisamos de ajuda para nos desenvolvermos e adquirirmos as habilidades necessárias para ter autonomia.

O único modo de essas habilidades serem adquiridas é por meio do processo educativo.

Esse processo pressupõe estimular a criança em seu crescimento físico, intelectual e de sua vontade. 

Vejamos, então, como não é complicado entendermos: se a criança não é capaz de andar, a levamos no colo até que ande; se ela não sabe comer, oferecemos o alimento em sua boca. Portanto, se, por impulso do desejo, ela “quer” algo que consideramos inadequado, iremos escolher por ela, afinal, nós sim somos capazes do exercício da vontade, ou seja, de discernir entre o que convém ou não, entre o que será um bem ou não. 

Nós, pais, seremos uma “vontade externa” da criança, uma “vontade auxiliar”, que permitirá que ela não seja guiada pelos desejos sensíveis, mas sim por uma vontade bem formada, que escolhe pelo bem. Não podemos dividir com as crianças pequenas a responsabilidade de decidir sobre as coisas, pelo simples fato de que elas não são guiadas por critérios, ainda não os adquiriram. Educar a vontade dos pequenos é nosso papel e, se fizermos isso, evitaremos que sejam eternos escravos do desejo. Crescerão em fortaleza e capacidade de viver com liberdade. Cabe a nós decidir as regras, as rotinas e os hábitos que sabemos que serão importantes para suas vidas futuras. Temos que ter objetivos claros. 

Agindo como “vontade externa/auxiliar”, daremos carinho e conforto a eles. Como é bom recebermos ajuda naquilo que ainda somos incapazes de fazer! Como transmite segurança quando alguém que conhece o trajeto nos indica claramente o melhor caminho a seguir. Aí se encontra a riqueza de escolhermos por eles.

O objetivo do processo educativo será que, com o crescimento, a criança vá aprendendo critérios claros, ganhando capacidade de lutar contra seus impulsos e de perceber o que é bom, para assim nortear suas escolhas. 

No próximo artigo, refletiremos um pouco mais sobre as reações das crianças à “vontade auxiliar” e alguns benefícios concretos que alcançamos com ela. 

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