Espiritualidade

Portas fechadas

O 2º Domingo do Tempo Pascal sempre retoma a passagem do Evangelho segundo São João, em que Jesus aparece aos discípulos, e relata que, na primeira vez, Tomé não estava com eles. O encontro entre Jesus e Tomé só acontece na semana seguinte. Neste momento, dá-se o diálogo, no qual o Senhor parece repreender o discípulo pela sua falta de fé. A reflexão sobre esse encontro, porém, vai muito além disso.

Primeiramente, é preciso considerar que as duas aparições de Jesus acontecem no contexto da comunidade reunida. A comunidade dos discípulos é a referência para ver o Ressuscitado. Na primeira vez que Jesus aparece, encontra os discípulos com medo e reunidos com as portas fechadas. Jesus ofereceu a eles a paz e apresentou-lhes as marcas da paixão. A paz, para acalmar o medo; e as marcas da paixão, para afirmar a continuidade entre o Crucificado e o Ressuscitado.

A ressurreição é um evento novo. Não está desligada dos acontecimentos anteriores; ao contrário, é a confirmação de que tudo o que aconteceu antes é parte da vontade de Deus. Ao se encontrarem com o Ressuscitado, os discípulos se tornam suas testemunhas e são enviados para transmitir a fé. O apóstolo Tomé foi o primeiro a receber o anúncio do Ressuscitado, transmitido pela comunidade dos discípulos.

Desde o início de sua pregação, Jesus teve a intenção de escolher discípulos, para que eles aprendessem Dele mesmo as coisas do Reino, para assim fundarem a Igreja. A comunidade dos discípulos, reunida a portas fechadas, foi o primeiro núcleo visível da Igreja, referência para o encontro com o Ressuscitado e para a transmissão da fé. A desconfiança do apóstolo Tomé é uma dúvida sobre o que foi a ele anunciado. Uma dúvida sobre a fé transmitida e ensinada pela Igreja.

O Evangelho afirma que transcorreram oito dias antes que Jesus aparecesse novamente aos discípulos. O oitavo dia, o domingo, é o dia do Senhor Ressuscitado, quando a comunidade se reúne para celebrar a fé, recebida e transmitida pelos apóstolos. A visão do Ressuscitado e das marcas da paixão não é a condição para a fé, mas, sim, acreditar no que foi transmitido pelos apóstolos e, portanto, pela Igreja. Isso vale tanto para Tomé quanto para todos os discípulos depois dele, e é o que foi ressaltado por Jesus ao falar dos que iriam acreditar sem ter visto.

Tomé não é apenas um discípulo incrédulo, como se pode pensar. Isso seria uma maneira muito simplificada e até ingênua de ler essa passagem do Evangelho. O encontro de Jesus ressuscitado com os discípulos e depois com Tomé toca diretamente na missão da Igreja e na transmissão da fé. É a Igreja que nos transmite a fé pelo Batismo. Também é a Igreja que alimenta a fé dos discípulos, na assembleia reunida para celebrar, Palavra e Eucaristia. Nós não vimos o Ressuscitado, assim como também Tomé não havia visto a primeira vez, mas O recebemos pela pregação. Esta é a fé que da Igreja recebemos e sinceramente professamos.

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