Fé e Cidadania

O poder da ciência e a sabedoria do amor

Em 2018, a encíclica Humanae vitae, de Paulo VI, completa 50 anos; a reprodução assistida (eufemismo para a inseminação artificial em humanos), 40 anos; a aprovação, no Brasil, pelo STF, da pesquisa com células-tronco embrionárias (outro eufemismo para fetos humanos não utilizados na reprodução assistida), 10 anos. Os três aniversários dão o que pensar...

Humanae vitae não é, como frequentemente se diz, sobre como a Igreja deve mandar na sexualidade das pessoas. Quem ler o texto verá que trata de como o amor conjugal deve prevalecer na vida sexual do casal e orientar o progresso da ciência nesse campo. Mas essa mensagem é muito mais difícil do que parece. Como o Papa Francisco observa, na Laudato si’ (LS 101-136), tantas décadas depois, acreditamos que todo o poder é em si mesmo bom, tudo que pode ser feito deve ser feito, e que isso nos fará felizes. Não fomos educados para o exercício do poder desmesurado da ciência e da técnica atuais.

O progresso da ciência, nesses anos, permitiu grandes avanços técnicos no controle e manipulação da reprodução humana, mas nem por isso nos tornou mais sábios e felizes. Pelo contrário, podemos nos perguntar se esses avanços colaboraram até mesmo com os ideais da sociedade que os realizaram.

Muitas mulheres têm tido sérios problemas orgânicos pelas doses elevadas de hormônios administradas via pílulas anticoncepcionais, e os abortos, mesmo praticados em clínicas “seguras”, não deixam de ter um grande impacto físico e psicológico sobre muitas mães. Hoje, a chamada pílula do dia seguinte é apresentada como um método bastante seguro, e a mulher nem sequer se dá conta que praticou um aborto. Até que ponto essa pílula e outros métodos semelhantes agridem o corpo e a alma da mulher, contudo, é uma questão que só o futuro responderá. O fato é que, durante todo esse tempo, a procura por terapias alternativas e naturais só cresceu em nossa sociedade – e o método natural defendido pela Humanae vitae também se desenvolveu. Oferecem-se cada vez mais recursos para uma administração sadia do número de filhos, com a enorme vantagem de tornar marido e mulher coparticipes na gestão da fecundidade feminina, algo muito desejável numa época de “empoderamento feminino”.

A reprodução assistida se desenvolveu para que os casais pudessem ter filhos, mas gera o drama dos filhos não implantados e congelados como embriões e dos filhos excedentes abortados. Numa sociedade onde abundam filhos sem pais e pais sem filhos, a adoção não seria uma atitude muito mais sábia? O esforço intelectual usado na reprodução assistida não teria sido muito mais bem utilizado ajudando os casais inférteis a descobrirem, como disse o pai de uma criança adotada, que “os filhos do amor são tão nossos como os filhos da carne”?

Em 2008, quando o STF autorizou a pesquisa com células-tronco embrionárias, cadeirantes se mobilizavam em função do anúncio que essas pesquisas permitiriam que eles viessem a andar. De fato, a pesquisa com células-tronco vem criando terapias eficientes para lesões medulares – só que utilizam outras células-tronco que não as embrionárias (e essa possibilidade já era conhecida na época). Aqueles cadeirantes foram mobilizados a partir de uma falsa esperança.

O bom cientista sabe que a ciência e a técnica podem lhe dar recursos, mas não a sabedoria para usá-los. Essa vem com a história e o amor. Humanae vitae é um convite para que a sabedoria do amor oriente a ciência.

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