Editorial

O papel do educador cristão

O homem é por natureza um ser social. Dentre outras coisas, isso significa que, para que possa realizar-se, é necessário que seja educado. Segundo a Tradição Cristã, esse papel cabe primeiramente à família e à Igreja. No entanto, nunca se deixou de reconhecer o papel das escolas e do Estado. É por isso que, sempre aberta ao diálogo com a sociedade, também a Igreja busca soluções para os não pequenos desafios educacionais hodiernos. Em razão disso, a Arquidiocese de São Paulo organizou o I Congresso Católico de Educação.

Em um dos painéis, o professor Francisco Ribeiro observou que o papel do educador é possibilitar aos alunos a felicidade. De fato, não cabe ao professor ser a causa principal do conhecimento – que depende essencialmente da atividade do aluno –, mas sim auxiliar o discípulo a alcançar, tanto quanto lhe for possível, a própria plenitude.

Testemunhamos hoje educadores e instituições de ensino cujo objetivo principal é a inserção profissional, como se a plenitude humana estivesse reduzida a ter um emprego de prestígio. Com efeito, tal objetivo é um fim legítimo que a educação contempla, porém apenas enquanto ordenado ao fim último do homem – aquilo que o tornará plenamente feliz. Ainda que não soubéssemos claramente em que consiste esse fim, com facilidade perceberíamos que ele não se esgota em um cargo profissional – muito menos nas riquezas ou na satisfação de prazeres imediatos –, pois o ser humano é muito mais do que um patrão ou empregado.

Em linha com a exposição do professor Ribeiro, o professor Roberto Mallet recordou a origem etimológica da palavra educar. Do latim ex ducere, “trazer para fora”, revela um aspecto essencial de tão nobre atividade. O professor deve conduzir seus discípulos à realidade, possibilitar-lhes uma experiência mais profunda da verdade. No entanto, hoje dissemina-se, com todos os esforços possíveis, a mentira do “basto a mim mesmo e gero a mim mesmo”, como se cada indivíduo fosse causa de si próprio e capaz de recriar, segundo os desejos imediatos, o mundo ao redor – “as coisas são como quero, e não como de fato são”. Como afirmou Bento XVI, vivemos em um tempo em que, talvez mais do que nunca, o homem desalojou Deus do papel de criador. Tal esforço é tão grande que se chegou à loucura de atribuir a ideologias o status de científicas.

Um exemplo é a ideologia de gênero: propõe que homem e mulher são conceitos criados, e que a identidade biológica de cada pessoa não determina em nada sua constituição psíquica e espiritual. O que é isso senão simplesmente negar o que se vê? Parece que a educação atual já não trata da realidade, das pessoas concretas que existem em um momento e lugar, que receberam o dom da vida ao invés de atribuí-la a si próprias, que necessitam de um sentido, de algo que transcenda a matéria; enfim, que buscam aquilo que as possa preencher, e que chamamos de felicidade. Ora, a Tradição Cristã sempre reconheceu o papel da educação como um “trazer para fora”, em que o mestre guia o discípulo para que este conheça a realidade tal como é. Tal esforço não apenas é coerente. Ele possibilita que o aluno se aprofunde no conhecimento da verdade a respeito de si próprio, mas também o exige. Essa mesma Tradição resolve o quebra-cabeças da educação de maneira perfeita e perene: nosso fim último é Deus, e é nele que está nossa felicidade. É à luz da Sabedoria Encarnada que se dá a verdadeira educação do homem.

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