Editorial

O Papa na África: uma lição sobre reconciliação

Muitos são os motivos para que o Papa Francisco tenha decidido voltar à África, mas “reconciliação” foi uma das palavras que marcaram sua visita a Moçambique, Madagascar e República de Maurício, entre os dias 4 e 10 de setembro.

É comovente ver a cena em que, em Moçambique, Francisco é recebido por jovens de várias religiões, principalmente cristãos e muçulmanos, com gritos de “Reconciliação! Reconciliação!” O país, duramente atingido por desastres naturais no início deste ano, também viveu anos e anos de guerra civil e, até hoje, ainda não se recuperou. Após 16 anos de luta armada entre o governo e grupos rebeldes, um acordo de paz foi firmado no início de agosto. No entanto, a situação ainda é delicada.

O Papa não vai a um país para resolver seus problemas. Mesmo que quisesse, ele não seria capaz de fazer tudo sozinho. Cabe à população, aos governos e às comunidades da Igreja local assumir as rédeas do próprio destino e traçar um caminho de unidade e de paz.
Por outro lado, quem melhor do que o grande “construtor de pontes”, o Pontífice máximo, para levar uma mensagem de inspiração?

O Papa orienta, aponta o caminho da luz de Cristo e, com sua visita, mostra que é um pastor. “Vocês não são só o futuro de Moçambique, ou da Igreja e da humanidade. Vocês são o presente, com tudo o que são e fazem, já estão contribuindo no presente com o melhor que podem dar”, disse Francisco a esse grupo de jovens.

Alguns dias depois, em missa celebrada no Estádio de Zimpeto, na capital Maputo, ele lembrou que o amor que Jesus Cristo pede a cada um de nós não é “abstrato, etéreo ou teórico”. Em vez disso, Jesus quer que sigamos “o caminho que Ele mesmo percorreu primeiro”, pois amou até mesmo aqueles que o traíram.

“É difícil falar de reconciliação quando ainda estão abertas as feridas causadas por tantos anos de discórdia, ou convidar a dar um passo de perdão que não signifique nem ignorar o sofrimento nem pedir que se apaguem a memória ou os ideais”, admitiu o Santo Padre. “Apesar disso, Jesus nos convida a amar e a fazer o bem. E isso é muito mais do que ignorar a pessoa que nos fez mal”, acrescentou, lembrando que Jesus espera de nós uma “benevolência ativa”. 

Jesus desafia a lei do “olho por olho, dente por dente”. Não deseja para nós a equidade na violência. Pelo contrário, Ele veio para que todos tenham vida, e em abundância. Por isso, como já dizia São Paulo VI, a paz não é simplesmente a ausência de guerra, mas o empenho diário, e ativo, na busca do bem do outro e, assim, o encontro do próprio bem.

“Trata-se de um comportamento não de fracos, mas de fortes, um comportamento de homens e mulheres que descobrem que não é necessário maltratar, prejudicar ou esmagar para sentir-se importantes”, diz Francisco.

O caminho que Jesus nos ensina é o da justiça e o do serviço: só a Ele podemos entregar nossas angústias, dores e sofrimentos, e só com Ele podemos caminhar pela estrada do amor, da misericórdia, na defesa dos pobres e da Criação.

Temos de não só “não odiar” aquele que nos fez mal, mas perdoá-lo, abençoá-lo e rezar por ele. O grande desafio da reconciliação é nos tornar geradores de vida, em vez de perpetuadores de morte. A vingança e o insulto jamais inauguram uma relação que conduz à paz, insiste o Papa Francisco.
 

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