Espiritualidade

Não tenhas medo...

Medo e coragem são duas sensações muito presentes na vida das pessoas, com certeza em todos nós, mesmo se não falamos sobre isso. O medo provoca um estado de tensão, que é fruto de um receio de fazer algo. A ameaça pode ser física ou psicológica, mas ela tem força para paralisar, inibir ou até provocar reações extremas em quem sente medo. Por outro lado, a coragem é entendida como a capacidade de enfrentar o medo e vencer a resistência. Uma pessoa corajosa é aquela que supera os seus receios e vai além, enfrentando os problemas e as barreiras provocados pelo medo. À medida que uma pessoa vai amadurecendo, ela vai aprendendo a enfrentar seus temores de forma positiva, porém isso não quer dizer que esteja absolutamente livre de todos os medos. Sempre haverá alguma coisa que nos causa medo, receio ou aversão. Mas a coragem será realmente o contrário do medo?

Ao longo da História da Salvação, encontramos muitos homens e mulheres que expressaram seus medos e deixaram seu testemunho na Sagrada Escritura. Um desses exemplos foi Abraão, chamado a deixar a sua terra, seus parentes e conhecidos para ir à Terra Prometida. O chamado foi um desafio a deixar as seguranças, tanto físicas quanto psicológicas, e é provável que tudo isso tenha provocado inquietações nele e naqueles a sua volta. No caminho para a Terra Prometida, os medos de Abraão assumiram diversas formas, que pareciam colocar em risco sua vida e a vida dos seus, e tudo o que lhe restava era a promessa e a aliança com Deus. Na tentativa de vencer seus receios, Abraão mentiu, fugiu e até mesmo tentou resolver tudo pelas próprias forças. Mas será que apenas a sua iniciativa e coragem foram suficientes?

Outro exemplo e testemunho que encontramos na Escritura é o da rainha Ester, que foi viver no palácio real de forma oculta, sem revelar sua origem. Durante uma perseguição ao povo de Deus, Ester foi lembrada da sua condição e de como sua vida não seria poupada caso sua verdadeira identidade fosse descoberta. A rainha expressou o seu medo e receio em procurar o rei, considerando que ninguém podia se aproximar dele sem ser convidado ou autorizado. Toda a situação parecia “um beco sem saída”, colocando em evidência a fragilidade da rainha frente a circunstâncias muito maiores do que ela. Não é difícil imaginar o coração acelerado, as mãos frias e a respiração ofegante de Ester nessa situação. Mas será que apenas a coragem da rainha foi suficiente para superar o seu medo?

São José também recebeu um chamado de Deus e é herdeiro da história do seu povo. De fato, ele foi apontado como “filho de Davi”. Os evangelhos guardam poucas palavras a respeito dele, mas mantiveram a beleza e a realidade de sua resposta. São José recebeu como tarefa a paternidade adotiva de Jesus e também deveria assumir o Matrimônio com Maria. Mas, diante de uma missão tão grande, aquele homem, um simples carpinteiro, sentiu medo e resolveu em seu coração deixar Maria. A manifestação do divino, da vontade de Deus, realmente é inquietante e, sem dúvida, pode provocar medo, porque desafia não só os projetos pessoais, mas também as certezas e garantias conquistadas. Como herdeiro da história de Israel, a vida de São José guarda semelhanças com a vida de Abraão e da rainha Ester. Mas será que apenas a coragem foi suficiente para que São José aceitasse a vontade de Deus?

Abraão acreditou na promessa e, por isso, foi considerado justo pelo Senhor. Ester compreendeu que a sua vida e a vida do seu povo estavam nas mãos de Deus e, por isso, foi ao rei para interceder e seu pedido foi atendido. São José entendeu que o chamado de Deus exige a obediência da fé e que, quando aparece a fragilidade humana, a graça vem em seu auxílio. Não foi pela coragem ou pela iniciativa humana que eles enfrentaram seus desafios, mas foi pela fé. Também foi pela fé que São José viu realizada a promessa de Deus e de Jesus. Assim, a vida de fé dos homens e mulheres da Escritura e dos santos, a exemplo de São José, é um auxílio e consolo para nós. São José, rogai por nós!

 

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