Encontro com o Pastor

Minha história missionária

Nasci em Cerro Largo, região das Missões, no Rio Grande do Sul, na Diocese de Santo Ângelo, que foi uma das reduções missionárias dos Jesuítas com os índios Guarani. A cerca de 30 quilômetros do lugar onde nasci, está localizada Caaró, localidade onde foi martirizado São Roque González, no século XVII. Um pouco mais longe, correu o sangue de outros dois missionários mártires: Santos Afonso Rodriguez e João de Castilho. A paróquia local tinha sido criada em 1905 e entregue aos cuidados dos mesmos filhos da Companhia de Jesus, que, séculos antes, haviam vivido a epopeia missionária naquela região.

Meus pais, quando ainda jovens, participavam todos os anos da peregrinação paroquial a Caaró, prática que marcou a religiosidade deles e de muitos casais e famílias daquela região. Nos primeiros anos de minha infância cresci ouvindo hinos aos “três mártires rio-grandenses”, que minha mãe cantava enquanto trabalhava. Isso faz parte das lembranças de minha primeira infância, e ficou gravado no meu DNA religioso.

Em 1951, minha família migrou para o oeste do Paraná, onde passei boa parte de minha infância e juventude, até os primeiros anos de sacerdócio. Aquela região integrava a prelazia territorial de Foz do Iguaçu, que foi desmembrada e extinta, em 1959, dando origem às dioceses de Toledo e Campo Mourão. A área das duas dioceses havia sido território missionário entregue aos Missionários do Verbo Divino, já em 1925. O Pároco de minha família era um desses Missionários Verbitas, um homem muito dedicado e alegre, que atendia mais de 50 comunidades católicas espalhadas por um vasto território. Padre Aloísio Baumeister era o seu nome.

Ele marcou mais uma vez minha vida, quer pelo seu exemplo, quer pelo que falava nas suas pregações. Abriu-me um horizonte missionário e despertou em mim o desejo de ser padre missionário como ele. Mas ele teve a generosidade de me encaminhar para o “Seminário do Bispo” da recém-criada Diocese de Toledo, em 1962. Tornei-me padre diocesano, mas guardo uma imensa gratidão pelo testemunho missionário dele.

No Seminário Menor e na Diocese de Toledo, deparei-me novamente com a realidade missionária: o Bispo era um missionário italiano da Sardenha, da Congregação dos Oblatos de São José, dos Josefinos de Asti. Um homem generoso e empreendedor, dono de uma larga visão sobre a Igreja e o mundo. Ele trouxe para a sua diocese, durante o Concílio Vaticano II do qual participou, missionários fidei donum da Diocese de Cuneo, no Piemonte. Esses missionários do clero secular foram fantásticos pastores do povo e empreendedores dedicados. Eles me ensinaram muito durante todo o período de minha formação sacerdotal e também nos primeiros anos de exercício do ministério presbiteral.

Em 1975, já no fim do meu itinerário formativo para a ordenação sacerdotal, foi realizada a assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a evangelização, do qual resultou a Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelii Nuntiandi, documento que me inspirou e ainda inspira muito no serviço da evangelização. E o Papa João Paulo II, com suas viagens e visitas apostólicas, abriu os vastos horizontes do mundo para a missão da Igreja, como havia pedido o Concílio Vaticano II. Vivi e acompanhei de perto os muitos e variados momentos missionários da preparação e realização do Jubileu do ano 2000.

Não quero deixar de relatar que, ainda adolescente, li o livro sobre a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus. Esta pequena e querida Santa, padroeira dos missionários, encheu também o meu coração de ardor missionário. Como Bispo, fui mandado para São Paulo, onde a Igreja nasceu de uma missão dos Jesuítas, em 1554. E aqui me encontrei de perto com os Santos José de Anchieta, Galvão e Paulina, Beata Assunta e Beato Mariano e tantos outros santos missionários, que fizeram e fazem ainda um grande bem à Igreja! Devo reconhecer que o tema missionário me acompanha desde a infância e me fascina.

E qual é a sua história missionária? Não quer contar para outros durante este “Mês Missionário Extraordinário”?

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 02/10/2019

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