Comportamento

Meu pai São José

Durante os cursos de noivos nos quais colaboro, alegra-me perceber como são muitos os que abraçam o desafio da vocação do Matrimônio cristão, no qual está inserido a abertura à possibilidade de se tornar pai. Uma condição que exige uma preparação prévia, para que se possa exercer a paternidade adequadamente quando da chegada do filho. Não se estuda Engenharia construindo o primeiro prédio, mas é necessário o conhecimento anterior. Da mesma maneira, o pai deve se preparar, com alegria, para a chegada do filho. Uma responsabilidade que se assume com o comprometimento do sim diante do altar, em que Deus nos confia a perpetuação da vida em um novo ser humano e nos confere sua graça. Para tanto, precisamos de um mestre, de um modelo que nos revele humanamente o comportamento a seguir, dentro da realidade pessoal de cada um, mas que obedeça a princípios básicos para quaisquer condições. Por isso, insisto aos casais que tenham em seus lares uma imagem da Sagrada Família, para que ganhem essa intimidade na convivência com Maria e José.

Nunca será demais lembrar e relembrar a vida de São José. Uma biografia narrada em poucas passagens nos Evangelhos, sem que se saiba do seu nascimento, a idade durante a vida de Cristo, e mesmo o instante de sua morte. Foi identificado por alguns autores como “José, o silencioso”, pois nada se tem registrado do que falou, mas somente algumas apreciações do seu comportamento em situações que tinham o protagonismo de Maria e do Menino Jesus. No entanto, desde os primeiros séculos do Cristianismo, este santo recebe a admiração e veneração de milhões de pessoas. O que nos tem a dizer José hoje? 

O patriarca São José revela-se como Abraão, obediente, mesmo sem entender os desígnios do Senhor. Aceita a gravidez de Maria sem condená-la, até que o anjo revela em sonhos a vontade de Deus. Ampara na gruta de Belém a Maria e ao Menino como uma sombra imperceptível. Foge de imediato para a incerteza do Egito, sem reclamar e sem recursos além da fé e esperança em Deus. Retorna para um lugar seguro em Nazaré, avaliando os riscos à família. Sofre as angústias de perder o menino por três dias, e tem paciência e reconhece com humildade quando este falou no templo que devia cuidar das coisas de seu Pai (Deus). 

José, homem sereno, prudente, generoso, revela um caminho de obediência ao mais importante: amar para servir melhor e servir amando. Não é acomodado, mas não se afoba. Não compreende tudo que o incomoda, mas não busca culpados. Não se esconde, mas não se faz narcisista ou prepotente. Alguém que foi o homem escolhido para cuidar de Deus na Terra, passa sem ser notado, trabalha sem solicitar louvores. Vive de modo justo, nas palavras do Evangelho, traduzido como um santo para todos os tempos. Desaparece nas Escrituras como uma pequena vela que se apaga diante do sol que nasce com a plenitude da Luz. 

Nesse homem, o Senhor, pelo qual tudo foi criado e sem o qual nada foi feito, depositou a confiança de ser chamado de filho, e de ser reconhecido como filho do carpinteiro. Humanamente, aprendeu de José, como qualquer criança de então, a crescer e a comportar-se como homem perfeito. Submete-se o divino à autoridade do humano por amor, e, com José, caminhou obediente até iniciar sua missão diante dos homens, apresentando a Boa Nova do Reino de Deus. José é pai adotivo de Jesus, ou melhor seria dizer, José é pai adotado por Deus. Aceitou essa missão misteriosa, e a cumpriu com toda responsabilidade, fidelidade e santidade. 

Na sua simplicidade, como se não tivesse qualquer importância ao mundo, viveu José, a quem Deus confiou o seu Filho e sua Mãe. Não se conhece dele nada de extraordinário. Não se sabe de suas preferências. Não deixou heranças que não o seu exemplo de comportamento santo, diante de Deus e dos homens. Esse é o modelo da paternidade que Deus quis deixar aos homens que abraçam essa vocação. Neste domingo em que se comemora o dia dos pais, procuremos ouvir do silêncio de José as lições que continuam sendo necessárias para aqueles que buscam a santidade pela paternidade, válida para todos os tempos. Um forte abraço com meus parabéns a todos os pais. 

 

Dr. Valdir Reginato é médico de Família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar. E-mail: vreginato@uol.com.br
 
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