Editorial

Luz dos povos: a missão dos leigos na Igreja

Depois de termos apontado em Thomas More um exemplo de leigo, aproveitemos ainda este mês de novembro para nos debruçarmos sobre as principais características da missão laical, atitude especialmente necessária nas “circunstâncias especiais do nosso tempo” (Vaticano II, Lumen Gentium 30). 
A Igreja adverte primeiro que os leigos (os cristãos que não receberam as ordens sagradas nem seguem estado de vida religioso), embora tenham funções próprias e distintas das dos clérigos, não são inferiores em dignidade – antes, são-lhes irmãos (LG 32). O grande Santo Agostinho, lembrando que a autoridade sacerdotal lhe fora atribuída não para ser servido, mas para servir (cf. Mt 20,28), dizia a seu rebanho que se assustava por ser bispo, pela responsabilidade que teria diante de Deus – mas que seu consolo era o ser cristão, redimido assim como seus fiéis (Sermão 340,1). É certo, porém, que os leigos devem aos sacerdotes uma “reverência e amor” especiais, já que estes, “em razão do seu cargo, representam a pessoa de Cristo” (LG 37).
O fato, porém, é que existem muitos “locais e circunstâncias em que só por meio dos leigos a Igreja pode ser o sal da terra” (LG 33): uma fábrica, uma corte de justiça, uma empresa etc. – e desta constatação fica evidente que existe um apostolado próprio dos leigos. Em verdade, todos os atos, trabalhos, amizades e descansos do leigo, e até as incomodidades da vida, se suportados com paciência, podem ser oferecidos como sacrifícios espirituais agradáveis a Deus (cf. 1Pd 2,5; LG 34) – e de modo todo especial no altar da Eucaristia. Não é à toa que aquele tão belo “Mãe, vem nos ensinar a fazer da vida uma oblação!” foi escrito como hino de ofertório do Santo Sacrifício da missa.
A vida familiar é um caso privilegiado: na família “se encontra um exercício e uma admirável escola de apostolado dos leigos, se a religião penetrar toda a vida e a transformar cada vez mais” (LG 35). A família cristã proclama ao mundo a beleza do Reino de Deus e a esperança na vida eterna, e, pela sua própria existência, acusa o pecado e ilumina os que buscam a verdade.
O principal é reter que a alma de todo apostolado são “os sacramentos, sobretudo a sagrada Eucaristia, que comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens” (LG 33). Não existe apóstolo que não se confesse, que não comungue, devota e frequentemente. Repete-se: “Os sacramentos (…) alimentam a vida e o apostolado dos fiéis” (LG 35).
Enfim, embora seja verdade que os deveres religiosos não se confundem com os civis ou seculares, os leigos devem guiar-se em tudo pela consciência cristã, “já que nenhuma atividade humana, nem mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao domínio de Deus” (LG 36). Isso significa que estaria errado o fiel que, em qualquer aspecto de sua vida, fizesse escolhas ou aceitasse posições contrárias à doutrina católica, ao pretexto de que “uma coisa é religião, outra coisa é política”: se o aborto, por exemplo, é uma grave violação à lei de Deus, não pode em caso algum ser tolerado por um cristão nem sequer nas eleições políticas, na universidade ou na roda de amigos.
Da mesma forma devem os leigos “rejeitar a nefasta doutrina que pretende construir a sociedade sem ter para nada em conta a religião, atacando e destruindo a liberdade religiosa dos cidadãos” (LG 36) – por exemplo, criminalizando valores e convicções cristãs.
Leigos: “Vós sois o sal da terra, vós sois a luz do mundo; assim, brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus!” (Mt 5,13-16).

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