Espiritualidade

João Batista e o caminho para o Salvador

A liturgia do Advento procura preparar a Igreja para o Natal do Verbo de Deus em meio à humanidade. Nos belos textos proclamados neste período litúrgico, sobressaem figuras importantes na história da salvação, como o profeta João Batista, escolhido para ser o precursor do Salvador em Israel. 

O profeta João Batista, filho de Zacarias e Isabel, situa-se naquele ínterim entre os dois Testamentos. Certamente, o filho que Isabel concebeu na ‘velhice’ (Lc 1,36), trilhou o caminho de seu pai, sacerdote do templo de Jerusalém, mas, num determinado momento de sua vida, preferiu afastar-se e viver no deserto. Ali, retirado de tudo, especialmente da agitação da cidade de Davi e do templo, pôde aprofundar sua experiência de Deus e meditar melhor sobre as intervenções de Deus em sua casa à luz das grandes promessas bíblicas. 

Após perceber com a luz do Espírito de Deus que havia chegado o tempo da realização das promessas, sobretudo a de Isaías (Is 7,14), passou a empenhar- -se em preparar os seus para a acolhida do Messias, esperado há vários séculos, dizendo: “Preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” (Lc 3,4). Os israelitas reconheceram na pessoa e palavras de João a mesma força de Deus, presente nos grandes profetas dos livros sagrados da história entre Deus e seu povo. 

E o povo acorria a ele no deserto com perguntas a respeito da preparação em vista da chegada do Messias. Muitos se submetiam ao batismo nas águas do Jordão, mediante a conversão à via da misericórdia e da justiça, que assim lhes era recordada: “Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo!” (Lc 3,11); “Não cobreis mais do que foi estabelecido” (Lc 3,13); “Não tomais à força dinheiro de ninguém, nem façais falsas acusações, ficai satisfeitos com o vosso salário” (Lc 3,14). 

O anúncio de João Batista continua atual para os discípulos-missionários de Jesus Cristo que se preparam para a celebração de seu Natal nas comunidades. O profeta de vida austera no deserto apresentou na liturgia dos últimos domingos um itinerário para acender nos corações o desejo do encontro com Deus Salvador, na festa de sua encarnação. 

Há que se ressaltar o convite a ‘fazer’ deserto ou a reflexões acerca da vida, dos objetivos almejados, dos valores incorporados no dia a dia, da autenticidade do discipulado. A história se desenvolve no contexto de uma cultura que tende a levar as pessoas a se fecharem em si mesmas e se ‘realizarem’ no consumismo, sem sensibilidade para com as dores e o sofrer do outro nem compromisso para com as necessárias mudanças na sociedade. 

Esses são alguns dos elementos favorecedores de um estilo de vida superficial, no qual emergem um vazio e um mal-estar existencial, além de fortalecer as desigualdades e injustiças. Daí a importância da pergunta: “Que devo fazer?” João Batista respondia de modo claro e direto aos seus interlocutores, apontando para a partilha, a solidariedade e o cuidado de não lesar o outro. 

O caminho que leva ao encontro com o Verbo feito carne que se faz Deus conosco passa pela vivência da alteridade. A sensibilidade às interpelações do outro resgata o que há de melhor em cada um, pois suscita o amor e expande o coração. Por isso, o Natal é perpassado de alegria. É gesto de amor de Deus aos homens, pois arma sua tenda no espaço e tempo da criação. É uma entrega que vem consolidar o caminho do amor, preconizado pelo Batista ao gritar: “Preparai os caminhos do Senhor”!

 

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