Opinião

Igreja deve lutar para pautar o debate dentro da sociedade

As primeiras décadas do século XXI são marcadas por um espírito de crise (crise econômica, crise social, crise ambiental, crise dos imigrantes etc.) e por um espírito de desconfiança, no estilo “algo está fora do lugar” (crise do marxismo, crise do liberalismo, crise das ciências humanas, crise existencial etc.).

De forma geral, cada século tem suas crises, mas o início do século XXI é marcado por uma falta de esperança e crescimento do sentimento de mal-estar.  Grande parte do sentimento de mal-estar é causada, por um lado, pelo esgotamento dos sistemas ideológicos que dominaram o cenário político e intelectual do final do século XIX e grande parte do século XX. Por outro lado, ainda não existem novos e arejados sistemas de ideias que possam substituir os sistemas esgotados. Em síntese, o século XXI necessita de utopia, de sonho, de renovação do humanismo. 

A consequência do esgotamento dos sistemas ideológicos e, ao mesmo tempo, da falta de utopia é que o século XXI virou uma espécie de “já vi este filme”, ou seja, as ideias apresentadas, com ares de novidade, não passam de “pano novo em roupa velha” (Mateus 9,16). O velho nacionalismo do século XX é apresentado com ares de novidade tropical, o velho e autoritário marxismo é apresentado como luta por direitos sociais, o velho liberalismo alienante á apresentado como novidade para melhorar a economia, e assim sucessivamente.   
Diante desse quadro, qual o papel da Igreja? 

 A Igreja não pode ficar alheia ao mundo e aos problemas do século XXI. O Papa Francisco convida a Igreja a experimentar um novo ardor missionário, ir ao encontro de novas realidades, descobrir a dor que existe nas periferias existenciais. 
Neste quadro, a Igreja deve lutar para pautar o debate dentro da sociedade contemporânea. A Igreja não pode ser um mero figurante, um ator sem importância dentro da sociedade. É necessário que a Igreja seja capaz de guiar o atual debate no campo das ideias e das ações estratégicas.     

Para isso acontecer, de um lado, a Igreja precisa ser capaz de dizer ao homem contemporâneo que as atuais ideologias, apresentadas com ares de novidade, não passam de vãs ideologias, velhas e desgastadas. No entanto, por outro lado, de forma profética, a Igreja precisa ser espaço de construção da nova utopia, do novo sonho, do humanismo integral. A Igreja deve ser capaz de apresentar uma saída para as crises atuais, uma saída que não esteja nem no autoritarismo do marxismo nem na alienação liberal, que não caia nas novas formas de alienação (nacionalismo ingênuo, culto à natureza etc.). A Igreja precisa apresentar o novo homem, anunciado por Jesus Cristo, o ser integral que, por razões éticas, como demonstra o Livro do Gênesis (1,29): “Eis que serão os guardiões das plantas que nascem em toda a terra e produzem sementes, e todas as árvores que dão frutos com sementes”; é guardião da natureza. Num mundo marcado pela contradição entre crescimento material, desenvolvimento tecnológico e crise existencial, é necessário que a Igreja apresente a vida espiritual, o equilíbrio entre arte e tecnologia, entre vida mística e vida material. O século XXI poderá ser um século diferente na história da humanidade, um século marcado pelo diferencial do sonho e do humanismo. No entanto, isso só acontecerá se a Igreja for capaz de pautar o debate no campo das ideias.

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