Comportamento

Fidelidade conjugal

Na sequência da série “Não está fácil casar-se”, após termos no artigo anterior nos referido à condição da livre e espontânea vontade para a validade do Matrimônio, vamos hoje à segunda condição: fidelidade até que a morte vos separe. Esta condição está baseada nas Sagradas Escrituras: “Por isso, deixará o homem o pai e a mãe e se unirá a sua mulher, e eles serão uma só carne” (Gn 2,24) e “... Portanto, o que Deus uniu o homem não separe” (Mt 19,6).  Desde séculos, antes de Cristo, já era vista como um desafio quase impossível de se cumprir. No entanto, Cristo confirmou o Antigo Testamento e assim permanece.
Se difícil no passado, hoje é considerada utópica para a grande maioria, que prefere o refrão do poeta: “O amor, que seja eterno enquanto dure”. A fidelidade nunca foi um tema de fácil compreensão, embora admitida como fundamental para a amizade, para relações comerciais, institucionais e outras. O que de fato parece ocorrer é que o seu sentido é compreendido, mas a sua convivência incomoda muitas vezes a consciência, e se prefere achar que é impossível vivê-
-la. Argumentos não faltam.
Um fato futebolístico, vivo na memória dos mais idosos, pode ajudar a compreender. Ocorreu entre as décadas de 1950 e 1970, quando o Corinthians permaneceu por 23 anos sem um título do Campeonato Paulista. A esta demora interminável, quase uma eternidade, crescia o número de torcedores do clube. Garotos e jovens que jamais tinham vibrado com este título aderiam ao time do “Tabu”. Debaixo de sol e chuva, com frio ou calor, de tarde ou à noite, os estádios em partidas corintianas sempre eram os mais lotados. Nada fazia perder a esperança do dia de glória, como de fato ocorreu no ano de 1977. Pois bem, a esta perseverança, em que as derrotas sucessivas, em condições muitas vezes desfavoráveis de clima, condução ou dinheiro do ingresso para assistir ao jogo, poderiam desanimar qualquer um, novos corintianos eram batizados com o nome de “fiel”.
O fato verídico da “fiel corintiana” é uma explicação bastante didática do que se faz quando se promete a fidelidade conjugal no Matrimônio. Uma fidelidade em todas as condições: na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza. Exigente? Não há dúvidas. E muito! Para tanto, esta condição se coloca juntamente com a participação da graça divina nos futuros cônjuges. Uma fidelidade de um para com o outro e dos dois para com Deus. Exatamente por isso, enfatizo aos noivos que, se quiserem crescer no amor de um para com o outro, cresçam primeiro no seu amor individual para com Deus, fonte de todo Amor. Do contrário, não há sacramento e sim um contrato humano, vulnerável às fraquezas humanas bastante conhecidas de todos. 
Se falávamos (no artigo anterior) sobre a capacidade de saber viver a liberdade para poder casar, optando com espontânea vontade por permanecer junto de alguém em quem encontrei um amor sem igual, agora é preciso que esta decisão tenha a duração da vida enquanto houver a existência simultânea dos dois. 
Vivemos cada vez mais num mundo do descartável, como afirma o Papa Francisco. Não mais do copinho de café ou dos bens materiais, mas também dos sentimentos, das crenças, dos valores morais e éticos... Tudo é relativo e pode mudar. Não existe fidelidade ao descartável, ao que morre sem que se deixe um sentimento de perda, ao que nunca se considerou comprometido para algum fim. Não existe fidelidade em quem só se preocupa com o próprio umbigo, e seu mundinho, aos que pensam que o passado já foi e o futuro não me interessa porque não sei se vou viver. E assim desejam somente o presente que se escorre velozmente pelas mãos sem deixar marcas ou projetar sonhos para realização.  
Este panorama atual – do descartável – em que cada vez mais prolifera o hedonismo, e com perdão da expressão, uma “animalização humana sexual”, fica cada vez mais difícil se falar em fidelidade. A fidelidade exige um comprometimento com um sentido que define o comportamento de vida, seja quais forem as condições apresentadas. Não nos comprometemos com circunstâncias, mas com pessoas, com Deus, com o Amor. E isto só é possível quando se incorpora na brevidade do corpo o sentido de eternidade da alma: “Até que a morte vos separe”. É preciso estar preparado na fidelidade para poder exercer a terceira condição para o Matrimônio, que será vista no próximo artigo: a generosidade para a abertura aos filhos. “Não está fácil casar-se”.  

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