Opinião

As festas juninas devem ser declaradas patrimônio imaterial do Brasil

No mês de junho, a Igreja e muitos lugares no mundo, incluindo o Brasil e, de forma especial, o Nordeste brasileiro, acabou de viver, mais uma vez, de forma intensa, um ciclo de festas litúrgicas, espirituais e populares.

No caso especifico do Brasil, esse ciclo de festas é conhecido como festas juninas. Nas terras brasileiras, as festas juninas começam com Santo Antônio, comemorado no dia 13 de junho, passam por São João Batista, comemorado em 24 de junho, e terminam com São Pedro, comemorado em 29 de junho.

Santo Antônio é o Santo de duas cidades (Pádua e Lisboa), de dois continentes (Europa e África). No Brasil e em outros países, é conhecido como santo que intercede para as jovens mulheres arrumarem um bom casamento. Na realidade, trata-se do Santo da pregação teológica, um defensor da família, do casamento, da educação dos filhos e da juventude.  

Já São João Batista é o precursor de Jesus Cristo – a “voz do que clama no deserto” (Jo1, 23) – e, por isso, proclama “não sou digno de desatar a correia de suas sandálias” (Mc 1, 7). São João Batista é proclamado como o homem que “entre os que de mulher têm nascido, não apareceu alguém maior do que João Batista" (Mt 11, 11).

Por sua vez, São Pedro é a rocha angular, em que toda a Igreja está alicerçada. Ele é a primazia dos apóstolos, aquele ao qual Jesus Cristo proclamou: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18). São Pedro é a síntese da Igreja que, de um lado, é humana e, por isso, muitas vezes, nega a Cristo. Do outro lado, ele faz a proclamação que orienta a vida da Igreja: “Senhor, para quem iremos? Só Tu tens as palavras de vida eterna” (Jo 6, 68).

Os três santos juninos inspiram uma devoção que, ao mesmo tempo, é popular e erudita, é espiritualidade popular e teologia sistemática, é festa popular e reflexão eclesiológica, é uma festa que une a hierarquia da Igreja e o povo.

A Igreja deve lutar para que as festas dos santos juninos permaneçam bem vivas na vivência religiosa cristã e na cultura popular brasileira. Deve haver um esforço para que as diversas manifestações das festas dos santos juninos estejam bem vivas na memória da Igreja e do povo.  Bispos, padres e leigos devem desenvolver estratégias para que, a cada ano, seja feita uma renovação dos festejos juninos. Uma renovação baseada na espiritualidade dos santos juninos e na experiência popular.  

Uma das formas mais eficazes para as festas dos santos juninos possam permanecer vivas na memória do povo brasileiro é aprovar um projeto de lei, junto ao Congresso Nacional, que defina a festas dos santos juninos como patrimônio imaterial do povo brasileiro. Deve-se ter consciência que apenas a aprovação dessa lei não resolverá o problema da perpetuação das festas juninas na memória popular, mas é um passo importante para que essas festas sejam renovadas e, ao mesmo tempo, possam preservar a rica tradição cristã.    

Arte: Sergio Ricciuto Conte
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