Espiritualidade

Fazer a diferença

Em uma cidade grande como São Paulo, não causa espanto o crescimento da indiferença entre as pessoas. Afinal, todos estão ocupados com seus afazeres e não há tempo para prestar atenção a mais nada além das próprias preocupações. As pessoas que usam o transporte público para ir ao trabalho, por exemplo, ou estão sonolentas, porque se levantaram muito cedo, ou estão cansadas e tudo o que querem é um lugar para sentar-se. Quem entra num elevador não tem tempo para conversas, porque tem pressa de chegar à garagem, ao escritório ou, ainda, porque precisa ser atendido. 
Nas ruas, outras tantas pessoas caminham sempre com pressa e cada qual ocupada com seus problemas. Na cidade, todos estão muito ocupados com a própria história, e, assim, fica difícil ou quase impossível ocupar-se com a história e com o problema dos outros. Nesse ambiente, a indiferença é um comportamento natural, tornando-se praticamente uma regra social urbana. O que é natural para todo mundo, porém, constitui um desafio para os cristãos. “A Cidade de Deus”, obra de Santo Agostinho, do século V, já refletia essa condição humana: “Pervertida pelo pecado, a natureza gera cidadãos da cidade terrena; a graça, que libera do pecado, gera os cidadãos da cidade celeste”.
Neste ano, a Campanha da Fraternidade traz a parábola do “Bom Samaritano” como texto que fundamenta a reflexão, a ação fraterna e comunhão no caminho quaresmal, que prepara os fiéis para a celebração da Páscoa. A parábola contada por Jesus parte da pergunta “Quem é o meu próximo?” e relata que um homem ficou caído no chão após ter sido atacado por ladrões. Depois, por ali passaram algumas pessoas. Os dois primeiros, o sacerdote e o levita, ficaram indiferentes à condição do homem caído, contudo o samaritano não. 
O samaritano olhou e sentiu compaixão, tomou aquele homem caído e o levou para ser cuidado, tendo arcado com as despesas do tratamento. A parábola mostra que há apenas duas maneiras de se comportar diante do sofrimento e da dor de quem está caído: ser indiferente ou fazer a diferença. Exatamente por isso, a parábola termina com uma pergunta por parte de Jesus, querendo saber quem foi o próximo daquele que estava caído. Claramente, estamos inclinados a responder que foi o samaritano.
Para fazer a diferença, é preciso abrir mão de alguma coisa, é preciso parar e não apenas desviar o olhar ou o caminho. Fazer a diferença significa que é necessário deixar-se interrogar pelos acontecimentos, pelos caídos e pelas misérias humanas, e nessas 
realidades ver a presença de Jesus que espera ser acolhido, cuidado e amado. Assim como Deus não ficou indiferente ao nosso sofrimento e, por isso, enviou ao mundo seu Filho para nossa redenção, a cidade espera e precisa que os cristãos testemunhem a sua fé, fazendo a diferença com gestos samaritanos. 

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