Encontro com o Pastor

Em Roraima, o drama dos imigrantes venezuelanos

A semana de visita missionária e fraterna ao bispo diocesano de Roraima, Dom Mário Antônio, proporcionou-me uma agenda intensa e rica de visitas e encontros com a realidade migratória dos venezuelanos no Brasil. A capital de Roraima, Boa Vista, é a sede da única diocese no estado.

Roraima foi e ainda permanece uma região missionária, confiada inicialmente aos Jesuítas (até 1727), em seguida, aos Carmelitas (até 1850) e aos Capuchinhos (até 1892). De 1892 a 1907, a missão em Roraima esteve sob a responsabilidade direta da “diocese do Amazonas”. Em 1907 foi criada como prelazia territorial de Roraima, confiada aos cuidados do abade do mosteiro beneditino do Rio de Janeiro (até 1948). Em seguida, a responsabilidade passou aos missionários da Consolata (de 1949 até 1996) e, em 1979, a prelazia foi elevada a diocese. Atualmente, possui 23 paróquias e áreas missionárias e mais seis missões indígenas. A população do estado é de 605 mil habitantes, dos quais cerca de 50% são católicos. A extensão da diocese é de 225 mil km2 e nela trabalham 49 padres e 24 religiosos(as).

Quase a metade do território do estado está repartida em áreas indígenas, geralmente demarcadas, e os principais povos indígenas são os seguintes: Macuxi, Wapixana, Yano- mami, Ingaricó, Taurepang, Uaiuai, Yekuana, Waimiri-Atroari, Sanumá, Xiriana, Xirixana, Xamatari. Todos têm a sua língua e os seus costumes ancestrais bem preservados e, salvo dois grupos voluntariamente isolados, os demais estão em contato com o restante da população. Boa Vista tem uma população de cerca de 400 mil habitantes.

Nesse contexto, inseriu-se, em 2016, o fato migratório dos venezuelanos; os primeiros a chegar foram os indígenas Warao, deslocados do delta do Rio Orinoco, no Mar do Caribe. Outros dois grupos indígenas chegaram em seguida. Os venezuelanos foram chegando e continuam a sair do seu país em busca de melhores condições de vida e de futuro. Entram pela fronteira seca de Pacaraima, cidadezinha brasileira na divisa. Uma estrada asfaltada liga a fronteira da Venezuela a Caracas e, também, uma rodovia asfaltada liga Pacaraima a Boa Vista (212km) e Manaus (992km).

A situação atual da entrada dos imigrantes em Pacaraima continua intensa, mas está bastante tranquila e controlada. Desde 2018, o Exército Brasileiro montou ali uma base para a “Operação Acolhida”, na qual os imigrantes recebem a documentação para entrar de maneira regular no Brasil, além de vacinas e demais cuidados da saúde, abrigo temporário, alimentação e demais cuidados essenciais. É uma operação grandiosa, que chegou a acolher mais de mil pessoas por dia. Atualmente, em vista das festas de fim do ano, são um pouco menos, mas a tendência ainda é de cerca de 500 a 600 pessoas por dia.

De Pacaraima, a maioria das pessoas é encaminhada para Boa Vista, onde há outra estrutura de abrigos provisórios para os imigrantes sob o comando do Exército, contando com a colaboração de diversas entidades internacionais, como a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), a Cáritas Brasileira e local, muitas organizações e instituições da Igreja e da sociedade civil. As pessoas querem trabalhar, morar, ganhar dinheiro para viver e para enviar aos familiares que ficaram na Venezuela. O Governo Federal, por meio do Ministério da Casa Civil, promove a interiorização para todo o Brasil dos imigrantes que assim desejam e que tenham para onde ir e como trabalhar. Dependem, então, de braços abertos e da oferta de oportunidades de empresas, comunidades, organizações da Igreja e da sociedade em todo o Brasil.

Em Boa Vista o drama dos venezuelanos é grande, pois nem todos conseguem entrar no programa de interiorização, nem todos estão em abrigos e há muita carência e sofrimento de pessoas sem perspectivas de futuro. A Diocese de Roraima e muitas organizações da Igreja tentam fazer o que está a seu alcance, oferecendo acolhida, refeições, ajudas emergenciais e abrigo. As pessoas, no entanto, precisam de muitas coisas e o tempo de sua integração nas comunidades locais, Brasil afora, ainda pode ser longo.

A questão migratória venezuelana tem na sua base uma situação política complicada e uma economia praticamente paralisada no país vizinho. Resta torcer para que esse drama não se estenda por tempo demasiado longo, pois muitos imigrados que estão no Brasil e em outros países vizinhos desejam retornar à Venezuela, assim que as coisas melhorarem por lá. Oxalá isso não demore muito!

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