Opinião

As consequências do repetir ‘Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim’

Em um artigo anterior – “A oração infalível ‘Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim’” – publicado no jornal O SÃO PAULO, em 24 de janeiro de 2019, falamos sobre a oração milenar dos monges orientais, que consiste em invocar ao longo do dia e constantemente o nome de Jesus, repetindo: “Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim”. Várias e muitas são as consequências que advêm desse hábito descritas por aqueles que o praticam. Em primeiro lugar, afirmam que este é um caminho que conduz à salvação sem sofrimento e sem dor e que leva à transfiguração da realidade em que estamos imersos, como resultado da mudança do nosso coração na realidade do nosso mundo. Conduz, também, à descoberta surpreendente de que a real mudança de que necessitamos para sermos felizes é a transfiguração da nossa forma de ver, sentir e experimentar a realidade, antes de ser uma mudança na própria realidade externa. E, assim, nosso coração “aquecido”, em companhia de Jesus, estará também em melhores condições para ajudar a mudá-la.

Os monges dizem que o mais difícil é começar, uma vez que depois ela se torna natural e a lembrança da oração vem espontaneamente. Como começar? Eis um breve relato: “Sente-se sozinho e em silêncio. Incline a cabeça, feche os olhos, respire suavemente e imagine que está olhando para o seu próprio coração. Faça sua mente, isto é, seus pensamentos passarem da sua cabeça para o seu coração. Respire e diga ‘Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim!’ com os lábios ou em espírito” (“Relatos de um Peregrino Russo”, editora Vozes, p.42). Experimente repetir seguidamente essa frase durante alguns minutos em qualquer lugar que estiver, recolhendo-se em casa, no metrô, no ônibus, no carro, antes de fazer um exame ou ir procurar emprego, num momento de aflição e dificuldade ou mesmo quando estiver doente ou preocupado com alguém ou com alguma coisa.

Eis um relato das consequências desse modo simples e verdadeiro de rezar: “A partir do momento que comecei a rezá-la, comecei a sentir de tempos em tempos diversas sensações no coração e no espírito. Às vezes, havia uma espécie de borbulhar no meu coração e uma leveza, uma liberdade, uma alegria tão grandes que eu me sentia transformado e em êxtase. Às vezes, eu sentia um amor ardente por Jesus Cristo e por toda a criação divina. Às vezes, as lágrimas corriam sozinhas em reconhecimento ao Senhor que tivera piedade de mim, pecador empedernido. Às vezes, meu espírito limitado se iluminava de tal maneira que eu compreendia claramente aquilo que outrora não conseguira sequer conceber. Às vezes, o doce calor do meu coração espalhava-se por todo o meu ser e eu sentia, emocionado, a presença inigualável do Senhor. Às vezes, eu sentia uma alegria poderosa e profunda ao invocar o nome de Jesus Cristo e compreendi o significado das palavras: ‘O reino de Deus está no interior de nós (Lc 17,21)’. Percebi que os efeitos da oração do coração aparecem de três formas: no espírito, nos sentidos e na inteligência. Por exemplo, no espírito, a doçura do amor de Deus, a calma interior, o arrebatamento do espírito, a pureza dos pensamentos, o esplendor da ideia de Deus. Nos sentidos, o agradável calor do coração, a plenitude da doçura dos membros, o borbulhar da alegria no coração, a leveza, o vigor da vida, a insensibilidade às doenças ou ao pesar. Na inteligência, a iluminação da razão, a compreensão da Santa Escritura, o conhecimento da linguagem da criação, o desapego das vãs inquietações, a consciência da doçura da vida interna, a certeza da proximidade de Deus e de seu amor por nós” (“Relatos de um Peregrino Russo”, editora Vozes, p.p 70-71).

Ana Lydia Sawaya é professora da UNIFESP, fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge. Foi pesquisadora visitante do MIT e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP
 
 

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