Comportamento

Carta à mamãe de primeira viagem

Bem-vinda, mamãe! Essa será, com certeza, a mais rica e maravilhosa experiência de sua vida, possibilitará um amadurecimento enorme e a tornará uma pessoa melhor; mas, evidentemente, como tudo o que é bom, é exigente, árduo, oferece muitas alegrias e alguns sofrimentos. 

Você terá a oportunidade de conhecer sentimentos que nem imaginava existirem:  um amor sem medidas, daqueles que não cabem no peito – às vezes chega a sufocar; um medo de perder inimaginável, o que faríamos sem esse pequeno que até há pouco nunca tínhamos visto?; uma culpa que não tem justificativa: tudo o que fazemos parece insuficiente ou imperfeito... enfim, essa experiência é intensa e desperta em cada uma, de acordo com seu temperamento, os mais diferentes sentimentos. 

Mas, prepare-se: existe um sentimento que aparece e toma conta das mamães, especialmente as de primeira viagem: a insegurança. Essa tal de insegurança chega junto com o bebê, talvez um pouco antes e toma conta do pedaço. Hoje em dia, com tantas e tão diferentes informações, o sentimento de insegurança aumentou. Além disso, as mamães estão movidas por uma ânsia de perfeição incrível. Tudo precisa ser perfeito: a criança precisa ser compreendida em suas manifestações, atendida em todas as necessidades da melhor maneira e estimulada com excelência. Tendo em mente essa perspectiva, lançam-se em busca de informações que vão desde como alimentar, como dar banho, como fazer dormir, como (quando e quanto) oferecer colo, que tipo de quarto montar, que tipo de música oferecer para o bebê ouvir. Passados os meses iniciais, as informações multiplicam-se ainda mais: dizer “não” é proibido, mas só “sim” é nocivo, a disciplina positiva, a cama compartilhada, o desmame gentil, desfraldar somente quando a criança pede, as vantagens do quarto montessoriano, instruções para a escolha da creche ou escola “perfeita”, nunca oferecer açúcar antes dos dois anos, como introduzir alimentos saudáveis, como lidar com crianças agressivas, como aumentar a autoestima do seu filho, como não “traumatizar” os pequenos, como lidar com os inúmeros quadros alérgicos atuais..... Meu Deus, que desespero!!! Como é difícil criar um filho com tantas informações, por vezes, antagônicas! Só pode crescer a insegurança e o sentimento de incapacidade diante de tudo isso.

Mamãe, preste atenção e reflita com carinho sobre o que vou lhe dizer: esse bebe que está sob sua responsabilidade é uma pessoa que precisa de poucas coisas para crescer saudável: amor (carinho, sorriso, aleitamento materno se for possível, senão uma boa mamadeira oferecida com aconchego, com afeto), cuidados básicos (rotina, sono, alimentação, higiene) e limites (mostrar com clareza e firmeza o que querem ou não que ele faça e, assim, ensinar valores). Os erros farão parte do caminho e, pasmem; podem ser bons, pois, com humildade, aprenderemos com eles. Outra coisa de suma importância: esse bebê pequeno e indefeso é resistente, forte, suporta pequenos desconfortos e incompreensões, aliás, isso os preparará para a vida adulta, afinal, os percalços e dificuldades são cotidianos nela. Suportar pequenas frustrações e desconfortos quando pequenos é ótimo, pois se tornarão pessoas mais fortes, resilientes, capazes de enfrentar a aventura de viver. E, em último lugar: perfeição é impossível. Os conhecimentos mudam, a ciência é dinâmica, o que hoje é visto como bom para a criança, amanhã é revisto e criticado. Somente o fundamental permanece. Portanto, confie em seus valores, estabeleça com seu marido o que consideram importante ensinar a esse pequeno e não fiquem tão vulneráveis a todas as “modas” educativas. Verão que educar os filhos, apesar de ser missão exigente, pode ser mais simples do que parece. 

 

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o Blog (Educando na Ação)
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