Fé e Cidadania

Campanha da Fraternidade de 2020

A Campanha da Fraternidade de 2020, com o tema “Fraternidade e vida: dom e compromisso”, ilumina nossa conversão pessoal e social a partir da parábola do bom samaritano – uma espécie de evangelho dentro do Evangelho. Desse texto provém o lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34).

Um olhar sobre a atitude dos personagens da parábola nos ajuda a rever e corrigir os comportamentos que não estão em sintonia com a Boa-Nova de Jesus Cristo. De início, há o homem que desce de Jerusalém para Jericó. Permanece anônimo, como se representasse qualquer pessoa humana: um viajante, um trabalhador que volta para casa, um desempregado, um peregrino!... De repente, vê-se bloqueado no caminho, impedido de seguir adiante em sua existência.

Entram em cena os ladrões. Assaltam-no e o deixam caído à beira da estrada e da vida. No Brasil e no mundo, a concentração de renda e a exclusão social tornam milhões de pessoas “descartáveis” do mercado de trabalho, como diz o Documento de Aparecida. Quantas erram pelas estradas à espera das migalhas da economia globalizada? Segundo o Papa Francisco, encontram-se fora de uma “economia que mata”. Assaltados e feridos no que possuem de mais rico: os braços para trabalhar e alimentar a família. Assaltados na própria dignidade humana.

Passam por ali o sacerdote e o escriba. Não têm tempo a perder. Devem seguir adiante. Mesmo diante do caído, prevalece o desinteresse. Introduzem-se, uma vez mais, as palavras do Pontífice: o desafio de transformar a “globalização da indiferença” pela “cultura da acolhida, do diálogo, do encontro e da solidariedade”. Sobram os feridos rechaçados pela intolerância, pelo preconceito e pela xenofobia. Faltam os gestos de abrir o coração e as portas ao outro, ao estrangeiro.

Por fim, vem o samaritano, ele mesmo um estrangeiro. Detém-se e coloca tudo o que possui a serviço do homem cuja vida encontra-se ameaçada. Sensível e solidário, “cuidou dele”, diz o texto. O conceito do cuidado adquire, na sociedade atual, relevância sem precedentes. Cuidar do outro que não tem trabalho nem moradia, não tem acesso à educação e à saúde, que se vê privado do que lhe é essencial à sobrevivência, mas também cuidar das relações humanas: familiares, comunitárias, sociais e políticas. Transformar a hostilidade em ternura, carinho e aproximação. Em lugar de muros, construir pontes; em lugar de armas, cultivar amizades.

A noção de cuidado, porém, ganhou nos últimos tempos um caráter bem mais amplo. Os escritos do Santo Padre não se cansam de chamar à atenção para o cuidado com a “nossa Casa Comum”. Igreja, governos, sociedade civil e organizações internacionais devem revestir de urgência e primazia os esforços pela preservação do meio ambiente. A devastação do planeta pode ser irreversível, dizem os estudiosos. Como defender os pobres e excluídos, primeiras vítimas dos desastres ambientais, mas também a vida em todas as suas formas e a biodiversidade?

É clara a conclusão do Mestre: “Vai e faze o mesmo”! (Lc 25,37).

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