Opinião

Brumadinho: a gente realmente se importa?

No último dia 25 de janeiro, por mais uma vez, assistimos atônitos aos noticiários que relatavam o que aconteceu em Brumadinho (MG), cidade próxima a Belo Horizonte, no rompimento da barragem de mineração da Vale, no córrego do Feijão. São dezenas de mortos, muitos desaparecidos e desabrigados.

porque acidentes são imprevistos. Ao tomar emprestada a definição dada pela Lei portuguesa (Lei de Bases da Proteção Civil nº 113/1991), preferimos chamar de calamidade, porque se trata de um “acontecimento grave de origem tecnológica, com efeito prolongado no tempo e no espaço, previsível, e que provoca elevado prejuízo material e vítimas, afetando intensamente as condições de vida e o tecido socioeconômico em áreas extensas do território nacional”. Para a Defesa Civil brasileira, ligada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, também há o reconhecimento de que o ocorrido se trata de uma calamidade pública e, sendo assim, não podemos pôr no mesmo cesto das catástrofes naturais, imprevisíveis (como terremotos, tsunâmis, furacões ou erupções vulcânicas), tampouco entre os acidentes corriqueiros. É, também, sem dúvida, um crime (ou vários)!

Mas a questão é: de fato, nós nos importamos? Porque, se nos importamos, é porque damos crédito à real importância do tema ambiental. E, se damos importância ao meio ambiente, como podemos consumir desenfreadamente os recursos naturais sem nos importarmos com sua procedência, como e onde são explorados, com quem lucra com eles, que danos socioambientais causam, com o destino que damos aos resíduos etc.? Se damos importância ao meio ambiente e, porque somos cristãos, nos importa aquilo que Deus criou, então como podemos num dia nos importarmos com os animais soterrados pela lama e, no outro, sermos contrários aos acordos internacionais de preservação da biosfera, acordos importantíssimos de que o Brasil é signatário – como o Acordo de Paris, por exemplo – ou, pior, sermos inertes às movimentações políticas que retiram do Poder Público a intensificação das fiscalizações ambientais, como se não fosse com a gente ou da nossa conta? Como podemos nos importar com as vidas que morreram na calamidade de Brumadinho e não nos importarmos com, por exemplo, o fabrico de roupas por mão de obra escrava nas oficinas do Bom Retiro e mundo afora em pleno século XXI, ou com a justa demarcação das terras indígenas?

Precisamos de desenvolvimento. Mas precisamos que ele seja sustentável, isto é, “economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente correto”. Não precisamos nem podemos nos desenvolver “a todo custo”, porque, como é óbvio, vidas não têm preço. Se cada um de nós não olhar para si mesmo, para sua consciência e suas atitudes, se não fizermos um mea-culpa depois de um intenso e diário exame de consciência, se não pedirmos perdão a Deus com vigor, verdadeiro propósito de mudança e conversão, então vãs serão nossas lágrimas e nosso lamento por Brumadinho. Soarão, tão somente, como orações de hipócritas abominadas por Deus!

Rezemos, contudo, uns pelos outros. Pelas vidas perdidas e pelo desequilíbrio ambiental, mas também pela nossa conversão, para que São Francisco de Assis e São José de Anchieta, patronos da Ecologia, possam nos ensinar a olhar mais para a Criação de Deus e, sendo menos egocêntricos, promovermos cada vez mais a paz e o bem! Que Nossa Senhora e o Apóstolo São Paulo intercedam por nós. Amém.

 

Diego Ferreira Ramos Machado é Licenciado em Geociências e Educação Ambiental e Coordenador da Pastoral da Ecologia – Arquidiocese de São Paulo.
 

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