Liturgia e Vida

Assim vos tornareis filhos do vosso Pai celeste’ (Mt 5,45)

7º DOMINGO DO TEMPO COMUM – 23 DE FEVEREIRO DE 2020

Deus é “Pai” em diferentes sentidos. É Pai como criador de todas as coisas: “Não temos todos um único Pai? Não foi um único Deus que nos criou?” 
(Ml 2,10). Ele fez, mantém e governa tudo o que existe por meio de sua providência. De um modo especial, Ele é Pai dos seres humanos, pois, no momento da concepção, infundiu-nos uma alma criada à sua imagem. Por isso, cada vida humana tem um caráter sagrado a seus olhos. 
De um modo ainda mais profundo, porém, Deus é o Pai dos cristãos. Mais do que a filiação natural ou o fato já em si magnífico de sermos feitos à imagem de Deus, por meio da fé em Jesus Cristo tornamo-nos “filhos no Filho”. Deus Pai olha para cada um de nós como se fôssemos o próprio Cristo e diz-nos – semelhantemente a como dissera ao Senhor – “Este é o meu Filho amado, no qual pus minha afeição” (Mt 3,17). No Batismo, ungiu nosso corpo e alma com o Espírito Santo, que nos faz agradáveis a Ele.  
A essa paternidade sobrenatural São Paulo se referia: “Não recebestes um espírito de escravos, mas de filhos adotivos, pelo qual clamamos Abba! Pai!” (Rm 8,15). Também São João menciona a filiação dos que creem em Jesus: “A todos que o receberam deu o poder de se tornarem filhos de Deus, aos que creem em seu Nome” (Jo 1,12). A filiação divina sobrenatural consiste numa semelhança com Deus por meio da fé; numa participação na filiação de Cristo; numa relação profundíssima com a Santíssima Trindade. A nós se aplicam estas palavras: “O santuário de Deus é santo, e vós sois esse santuário” (1Cor 3,16-17). 
O Evangelho deste domingo afirma que a condição de filhos adotivos se manifesta concretamente por meio do amor aos inimigos! Se somos filhos, foi-nos dada a capacidade de amar como o Filho Jesus: “Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem! Assim, vos tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mt 5,44s). Isso não é fruto da “boa vontade” dos homens, mas uma graça concedida por Deus. 
Mesmo os pecadores são capazes de amar os próprios filhos, namoradas, amigos de diversão e animais de estimação. Pessoas entregues ao mal também são capazes de sentimentos de compaixão, afeição e mesmo de lealdade. Porém, perdoar ofensas graves, orar por quem nos prejudicou e querer o bem a quem nos quer mal é algo sobrenatural, possível com a ajuda de Deus. 
Não se trata de “indiferença” ou alienação sobre o mal sofrido. Nem da anulação do senso de justiça. Jesus, que perdoou os que o crucificavam, pede-nos uma atitude semelhante à do Pai, que “faz nascer o sol sobre maus e bons” (Mt 5,45). Propõe-nos um amor de autênticos filhos de Deus: “Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). 
Esse amor não é um sentimento; é um ato da vontade ajudada por Deus. Para que seja possível, a oração é o primeiro passo. Rezemos pelos que nos prejudicaram ou nos querem mal! Peçamos a Deus que nos faça “querer querer bem” às pessoas mais “difíceis”. Isso já é começar a amar. 

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