Comportamento

Ao mestre com carinho

No dia 15 de outubro, comemorou-se o “Dia do Professor”. Pessoalmente, estou carinhosamente ligado a essa profissão. Minha mãe era professora. Tenho quatro irmãos professores, várias tias, cunhada, e mesmo eu exerço essa atividade há muitos anos, em cursos e na universidade. Aquela que já esteve dentre as profissões mais valorizadas na sociedade, hoje, particularmente no Brasil, parece estar escondida, ou mesmo desaparecida, como uma opção profissional para os jovens que se dirigem à faculdade. 

Em quase todas as disciplinas, do ensino fundamental ao universitário, ocorre uma grande carência de professores. Algumas áreas apresentam um vazio enorme, que cresce a cada dia e que deveria ser preenchido por jovens dispostos a seguir a Pedagogia como ciência para desenvolverem-se como educadores. Dificilmente se encontra, ao término do ensino médio, um(a) jovem que afirma “ser professor(a)” como sua primeira opção para o vestibular. Dessa forma, para cobrir essa insuficiência de mestres, profissionais de diferentes áreas são procurados para suprir essa lacuna, com urgência. Alguns para lá se dirigem com satisfação, outros por necessidades financeiras, muitos para fazer um “bico”, para fechar o orçamento. O que teria acontecido? 

Recordo-me que quando minha filha, ainda adolescente na época, mencionou que talvez fosse professora, recebeu da nossa funcionária, enquanto trabalhava na cozinha, uma reprovação em alerta: “Você quer morrer de fome, menina!?” Esse é o pensamento que desanima a muitos que gostariam de seguir essa estrada de valor fantástico, mas que desistem diante da avaliação popular já consolidada neste País. Ser professor é trabalhar muito (na escola e fora dela), ser um virtuoso (principalmente na paciência e na perseverança), atualizar-se constantemente nos tempos livres e sem receber, e ainda passar por desmerecimento por parte de alunos e, infelizmente, de muitos pais, que acreditam que por pagar o professor, este torna-se um empregado, e seu filho (estudante), um cliente, que deve ter razão. A escola virou um comércio da “formação”. 

A autoridade do professor passou a ser submissa à vontade do aluno. O ensino é uma gestão compartilhada e horizontal. A experiência foi substituída pelo que se encontra na primeira referência do Google, ainda que nem se saiba o autor do que está escrito. A reprovação tornou-se trauma potencial a ser banido. E a sala de aula virou terra de ninguém, onde se levanta e sai quando se quer, fala-se no celular (e como!), e a aprovação tem inúmeras chances entre recuperações dos irrecuperáveis. Estou exagerando? 

O que você pensaria se seu filho ou sua filha mencionasse a opção por essa profissão, após você ter investido tantos anos na sua educação, particularmente, se quiser se dedicar ao ensino fundamental, que é o mais importante de todos? Os mestres dos pequenos passos da infância deveriam ser considerados os profissionais mais bem pagos de uma nação. Da orientação deles, se estabelece a base educacional de um povo. Dela nascem as raízes que sustentarão inúmeras e distintas profissões. Além disso, com as grandes transformações sociais cristalizadas no mundo atual, é de responsabilidade do professor primário uma forte colaboração aos pais na construção do caráter de seus filhos. Deveriam lançar as bases virtuosas que favorecem o desenvolvimento pessoal na formação cultural, humanística, artística, ética, assim como no raciocínio lógico e na valorização do idioma para um bom comportamento social e com cidadania.

Um país que não valoriza seus professores, insisto, principalmente os do ensino fundamental, está destinado a viver repetidas tentativas insanas e frustrantes de reformas constantes e sem resultados satisfatórios para o seu progresso, pois os alicerces foram insuficientes para que se erguesse uma grande nação. Voltar a olhar o professor como profissional respeitável, dedicado e prestigiado na comunidade, é ter o discernimento de que a história caminha pelas estradas desenhadas por seus mestres. Se estes forem bem formados e valorizados, estaremos nos dirigindo para o bem estar de todos. Do contrário, ficaremos sob a doutrinação da tirania dos ignorantes.
 

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