Espiritualidade

Algumas reflexões pós-eleições...

No domingo passado, os brasileiros foram às urnas para o 2º turno do pleito para os cargos de Presidente da República e de Governador nos Estados que ainda não haviam decidido a questão na primeira etapa deste processo eleitoral. 

O povo brasileiro novamente deu um grande exemplo de cidadania. Quase 80% dos eleitores compareceram às suas respectivas sessões eleitorais de forma pacífica, exercendo o importante dever cívico de eleger seus representantes para os cargos majoritários da República. 

Além da atitude exemplar dos eleitores, há que se ressaltar o sistema de votação eletrônica, criação brasileira, que permite agilidade tanto na votação quanto na apuração. O sistema tem resistido a tentativas de suspeitas desmoralizantes e se firmado como eficiente e seguro. É uma amostra de onde o brasileiro pode chegar com sua engenhosidade. 

Como já é do conhecimento de todos, as urnas indicaram muitas mudanças no cenário político/partidário. Renomados políticos foram barrados pelos votos; por outro lado, novatos foram alçados a cargos legislativos e executivos do Estado. Nessa onda, o mapa partidário viu ocorrer transformação importante, o que se refletirá nas relações futuras das casas legislativas, com a tendência de desvalorização das lideranças partidárias nas negociações e de valorização de blocos transversais. 

A maioria dos eleitores preferiu uma linha de ideais e gestão oposta ao que vinha prevalecendo nos últimos mandatos presidenciais. A alternância no poder em um regime democrático é saudável, evidentemente, desde que respeitadas a Carta Magna e as instituições que a garantem e zelam pelo clima de liberdade e pluralidade em uma sociedade complexa e em transformações constantes. 

No período dos governos centrais da redemocratização no Brasil, duas perspectivas fundamentais emergiram da sociedade e se consolidaram com distintas administrações: a estabilidade econômica e as políticas públicas voltadas para a superação da pobreza. Essas diretrizes estão consolidadas nos debates. A experiência mostra que o descuido com a estabilidade econômica pode resultar em crise econômica e munição para um processo de impedimento do governante. Por outro lado, aplicar o receituário liberal econômico com desmantelamento de políticas públicas equivale, no mínimo, ao suicídio político. O povo não aceita mais tal tratamento.

Tendo transcorrido este processo eleitoral, os eleitos terão pela frente os grandes desafios do momento presente, mas, antes de tudo, será necessário empenho e habilidade para desarmarem o sentimento baseado no “nós contra eles”, das polarizações radicais, fenômeno que legou muita tensão e um espírito belicoso e combativo. É preciso sabedoria e boa vontade para conduzir esses polos, hoje arraigados em suas posições, para a práxis democrática dos debates de ideias e propostas em prol do bem da sociedade brasileira. O enfrentamento dos grandes problemas da sociedade brasileira requer o envolvimento dos mais diversos atores no encalço das melhores soluções.

Esse momento vivido pela sociedade brasileira requer dos cristãos católicos firmeza na defesa de um projeto de desenvolvimento humano integral, com a inclusão dos pobres e contribuição para se manter viva a esperança da construção de uma sociedade justa e de paz. Nesse sentido, é oportuno lembrar as palavras do Papa Francisco: “Enquanto no mundo, especialmente em alguns países, reacendem-se várias formas de guerras e conflitos, nós, cristãos, insistimos na proposta de reconhecer o outro, de curar as feridas, de construir pontes, de estreitar laços e de nos ajudarmos ‘a carregar as cargas uns dos outros’ (Gl 6,2)” (EG, 67). Que assim seja!
 

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